O prédio do lendário hotel paulistano Maksoud Plaza está ameaçado de mudar de mãos. Administrado há quase 30 anos pela família Maksoud, o imóvel foi a leilão, na semana passada, por conta de dívidas trabalhistas da Hidroservice Engenharia, empresa da holding comandada pelo patriarca do clã, o engenheiro Henry Maksoud, 79 anos. No pregão ninguém ofereceu lances, mas há pelo menos três interessados em adquirir o imóvel, avaliado em R$ 95 milhões. Caso a dívida da empresa não seja paga, um novo leilão será marcado em até 60 dias. Nem a direção nem os funcionários do estabelecimento falam a respeito do leilão ou sobre o futuro ainda incerto do hotel, que segue funcionando normalmente.

O Maksoud Plaza foi um dos pioneiros da hotelaria de luxo na capital paulista. Erguido em apenas dois anos, começou a funcionar em 1º de dezembro de 1979 e logo virou referência nacional em hospedagem cinco- estrelas. A fama veio de uma estratégia de comunicação imbatível: trazer grupos de jornalistas de todo o País para se hospedar no hotel e proporcionar a seus freqüentadores atrações internacionais de peso, como o cantor Frank Sinatra – ele inaugurou com um show o bar do hotel, em 1981. Deu tão certo que a fama do Maksoud se espalhou pelos quatro cantos do Brasil. “Naquela época, ficar nele era mais ou menos como se hospedar hoje no Burj Al Arab, de Dubai”, compara o apresentador Amaury Jr., que foi assessor de imprensa do hotel durante os anos iniciais do empreendimento.

Em seus tempos de glória, o Maksoud Plaza foi ponto de encontro de quem era ou queria ser algo no cenário paulistano. O brunch do hotel, aos domingos, era uma tradição entre as famílias ricas da cidade, e muitos casais escolhiam suas luxuosas suítes para passar a noite de núpcias. Pelo bar – onde sempre se podia escutar jazz da melhor qualidade – e no restaurante de culinária internacional circularam políticos, industriais, fazendeiros e muitos executivos estrangeiros. Ao longo de quase duas décadas em que esteve sob o comando diligente de Roberto Maksoud, o filho mais velho de Henry, o hotel hospedou personalidades históricas. Além de Sinatra, Sammy Davis Jr., o Rick Martin, Catherine Deneuve e a exprimeira- ministra britânica Margaret Thatcher foram alguns dos nomes que passaram por lá. Hoje, as estrelas que vêm à capital preferem as grandes redes hoteleiras de luxo, como o Sheraton, o Renaissance ou o Hyatt, e o glorioso Maksoud está caindo no esquecimento.

MONTAGEM SOBRE FOTOS DE NILTON FUKUDA/AE E BIÔ BARREIRA/AG. ISTOÉ

PATRIARCA
Henry Maksoud, o dono: o negócio era tocado por seu filho, Roberto, até 1996

Esse melancólico ostracismo se deve, em grande parte, à proliferação dos flats e apart-hotéis, no final dos anos 80. Mais baratos de administrar e mais em conta para o novo perfil de executivo que vem a negócios à capital paulista, eles captaram uma parcela importante da clientela que antes garantia uma lotação rentável aos hotéis de luxo tradicionais. A saída de Roberto Maksoud do comando do hotel, em 1996, também é apontada por conhecidos e amigos da família como uma das razões que levaram o hotel a sair do topo da lista dos estabelecimentos mais luxuosos de São Paulo. A cizânia, conta-se, teve origem nas dificuldades de relacionamento entre pai e filho.

Inteligente, culto e ávido por leitura científica, Henry Maksoud angariou a fama de exigente e mandão, e protagonizou histórias curiosas ao longo de sua trajetória como empreendedor. Na Revista Amanhã, que comprou em 1974 e dirigiu até 1990, ele tinha o costume de beliscar seus redatores sempre que não gostava das reportagens. No hotel, na década de 80, foi vítima do maior “pendura” da história das faculdades de direito do País, quando estudantes da Universidade de São Paulo decidiram pendurar a conta de uma festa de casamento de mentirinha, realizada no restaurante La Cuisine du Soleil. Pasma diante do ofício que dizia: “A diretoria do 11 de agosto, da Faculdade do Largo de São Francisco agradece o ‘convite’ da diretoria do restaurante pela comemoração da data de instalação dos cursos jurídicos no Brasil”, a direção do estabelecimento não teve dúvidas e chamou a polícia. Irado, Henry processou os 21 jovens que participaram da farsa, mas o caso acabou sendo arquivado alguns anos mais tarde.

A NATA DO PODER E DO SHOW BIZ SE HOSPEDOU LÁ

Nos anos 80, artistas internacionais e líderes mundiais escolhiam o Maksoud quando vinham a São Paulo

 

A ex-primeiraministra britânica Margaret Thatcher

A atriz Catherine Deneuve, símbolo de beleza e elegância

O cantor Frank Sinatra em apresentação no

  

                   

 
O cantor Sammy Davis Jr., outro hóspede ilustre

 

Apesar das dívidas, o Maksoud Plaza segue com as portas abertas, algo digno de crédito em um mercado tão competitivo. Em São Paulo, o chique hoje é se hospedar em hotéis de design como o Emiliano, o Unique e o Fasano. Funcionando à sombra de um futuro ainda incerto, o hotel cuja trajetória se mescla à própria história de São Paulo ainda recebe hóspedes fiéis. A atriz Bibi Ferreira é um exemplo. Em cartaz no teatro em São Paulo, ela vive há mais de um ano em uma suíte no 15º andar do prédio e garante que o estabelecimento não deixa nada a desejar em relação aos hotéis mais modernos. “Esse lugar é discreto, elegante e tem um atendimento impecável. Para mim, hotel não precisa ter novidade, precisa é funcionar bem”, afirma. Resta saber até quando o bom e velho Maksoud conseguirá fazer isso.

OUTROS EMPREENDIMENTOS LUXUOSOS QUE VIRARAM HISTÓRIA

     

 

CROWNE PLAZA (SP): fechou na semana passada e deve ser vendido ao Ministério Público FederalHILTON (SP): desativado em 2004, foi alugado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Reformado, espera ocupaçãoHOTEL NACIONAL (RJ): fechado desde 1995, entrou em crise na década de 80, após anos de glória. Já foi a leilão, mas ninguém o comprou