PT e Governo iniciam 2016 trocando farpas. Repetem o mesmo ritual do ano passado. Os dois querem resgatar a imagem. Mas por caminhos adversos. O PT e as agremiações radicais que lhe dão sustentação, como a CUT, pregam uma “guinada à esquerda”. Sugerem largar mão de ajustes e de medidas anti-inflacionárias. Exigem – e o termo é esse mesmo – “boas notícias” na forma de incentivos e larga distribuição de crédito. Sem limitações nesse aspecto! Almejam a volta da festa. Afinal, em ano de eleição, precisam mostrar o dinheiro girando. A conta que fique para depois! Os cérebros petistas elaboraram uma espécie de “Carta ao Povo Brasileiro”, já entregue ao Executivo, com ideias bem pouco ortodoxas. Ali está um festival de insanidades, como o uso de parte das reservas do Tesouro para bancar os gastos extras e até o pedido de um empréstimo à China. Ao todo são 14 medidas que passam, fundamentalmente, por um intervencionismo estatal fora de hora. Aplicado na marra. No contraponto dessa corrente, o ministro da Casa Civil, Jacques Wagner, ensaiou um mea culpa em entrevista concedida na semana passada ao Jornal Folha de S. Paulo. Disse que o PT se lambuzou no poder e despertou assim – claro! – a ira nas hostes do partido. Logo ele que é candidatissimo à corrida presidencial, caso Lula abdique da preferência. Wagner fez, na verdade, um movimento ensaiado. Quer lustrar a carapuça do Estado com algum senso de responsabilidade e altruísmo. Assume erros. Faz autocríticas. Promete mudanças sem rupturas. Dilma reiterou o discurso. Falou em café da manhã com jornalistas que não terá “guinada à esquerda”. Como no palanque, alegou governar para todos. Não apenas para o PT ou PMDB. Disse estar preocupada com o equilíbrio fiscal e a meta, mínima, de 0,5% de superávit. Diferenças postas entre PT e Governo, foi Lula, mais uma vez, quem se arvorou o papel de bombeiro, jogando água na fervura. Apelou para que não haja enfrentamento público e para que o Planalto e o partido diminuam suas rusgas. Lula gosta das propostas do PT e prega a imediata aplicação delas. Ao menos no que tange o princípio de resgate de uma agenda positiva. Só não sabe como fazê-lo. Dilma, por sua vez, levantou a hipótese de uma reforma da previdência. Promessa tão antiga como a sua incapacidade para levá-la adiante. A presidente não conta sequer com base política suficiente para tomar a dianteira dessa batalha. Ao contrário, tem logo ali adiante uma guerra, muito mais decisiva, por sua sobrevivência no poder. E nesse confronto vai precisar, mais do que nunca, do PT ao seu lado.