No último ano se consolidou o fim do monopólio das novelas que duram meses como carros-chefe da teledramaturgia brasileira. Seriados de ritmo veloz e episódios que encerram começo, meio e fim ganham cada vez mais público, projetos e espaços nas grades de programação. “Ligações Perogosas”, romance publicado pela primeira vez em 1782 pelo francês Pierre Choderlos de Lacros, ganhou vida nova na série homônima que a Globo leva ao ar até a sexta-feira 14, com sucesso estrondoso.

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NOVOS MONSTROS
Selton Mello (acima) e Patrícia Pillar (abaixo) como os anti-heróis de
Choderlos de Lacros: sem nada a dever a John Malkovith e Glenn Close

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Com Patrícia Pillar e Selton Mello na pele dos lascivos e cruéis aristocratas Isabel D’Ávila de Alencar e Augusto de Valmont, a série foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais durante a semana e incrementou o Ibope do horário.

Os primeros capítulos alcançaram em média 23,3 pontos, deixando a Record para trás com 7,6 pontos. Para a mesma faixa, a concorrente também abriu o ano com teledramaturgia em série. Mas “Conselho Tutelar” ficou com o terceiro lugar na audiência da noite.

“Ligações Perigosas” arriscou ao enfrentar a comparação com adaptações de sucesso. A trama chegou aos cinemas em 1959. De lá pra cá, teve 11 adaptações. A mais famosa, de 1988, reuniu Glenn Close e John Malkovich nos papéis principais. Indicada ao Oscar em sete categorias, levou para casa três estatuetas.

Texto mais que aprovado pelo público, portanto, a escolha também mostra que histórias conhecidas podem ser um manancial seguro de apostas. A versão global do enredo de manipulação, vingança e amor está sendo apresentada em dez capítulos diários, que também podem ser assistidos pelos serviços on demand da emissora.

De 19,5 para 23, 3
Foi quanto subiu a média de pontos do Ibope da Rede Globo
no horário das 22h em comparação a dezembro

“A televisão vive um momento de plena transformação”, diz Maria Immacolata, coordenadora do Centro de Estudo de Telenovela da ECA-USP. A especialista acredita que a dramaturgia na televisão terá uma oferta de formatos cada vez mais variados, além de compatíveis com a intenet. É na variedade que as emissoras irão ganhar público.

As redes sociais confirmam que a escolha do elenco contribui com a audiência. Além de Patrícia e Selton, que em nada ficam a dever às atuações hollywoodianas, Aracy Balabanian como a tia rica de Velmont e o martírio da religiosa Mariana, interpretado por Marjorie Estiano sustentam e atualizam o jogo de poder e o sofrimento criada pela narrativa escrita há três séculos. Uma boa história, como se sabe, nunca envelhece.

Fotos: Caiuá Franco/ Globo