A execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr na Arábia Saudita foi a desculpa que iranianos, sauditas, muçulmanos xiitas e muçulmanos sunitas esperavam há anos para um confronto aberto. Na semana passada, a Arábia Saudita e o Irã romperam as relações diplomáticas e comerciais e aumentaram a tensão no Oriente Médio, já bastante conturbado pelas guerras na Síria e no Iêmen e pela violência propagada pelo Estado Islâmico (EI). Ao longo da semana, Riad recebeu o apoio de Sudão, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Catar, e o Irã baniu a entrada no país de qualquer produto de origem saudita, proibiu a peregrinação de seus cidadãos à cidade sagrada de Meca e acusou os inimigos de bombardear a Embaixada iraniana no Iêmen. O Conselho de Segurança da ONU se limitou a condenar o ataque de manifestantes à Embaixada saudita em Teerã.

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FOGO
Xiitas protestam em frente à Embaixada saudita em Teerã

Minoria entre o 1,5 bilhão de muçulmanos espalhados pelo mundo, os xiitas são considerados hereges pelos sunitas que seguem o wahabismo, uma interpretação radical do Alcorão criada pelos sauditas e compartilhada por grupos terroristas da Al Qaeda ao EI. O líder religioso Nimr al-Nimr lutava por mais espaço político para os xiitas na Arábia Saudita e acabou acusado de incitar a violência contra o Estado. A cisão religiosa, no entanto, é só o pano de fundo para uma luta pela supremacia na região. No xadrez geopolítico, enquanto o Irã é aliado do Hezbollah no Líbano e do governo de Bashar al-Assad na Síria, a Arábia Saudita, dona das maiores reservas de petróleo do mundo, é tradicional aliada dos Estados Unidos. No ano passado, contudo, esse equilíbrio começou a mudar quando os persas chegaram a um acordo com seis potências ocidentais para limitar seu programa nuclear e destravar as sanções que sufocavam sua economia. Incomodada com isso, a monarquia saudita esperava uma oportunidade para subir o tom contra o rival.

Os sauditas se enfureceram com o acordo nuclear assinado entre o Irã e o Ocidente em 2015