Famoso pela oratória sedutora, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, é um homem acostumado a grandes discursos. Poucos vezes eles foram tão marcantes quanto na terça-feira 5. Chamado ao palco pelo pai de um garoto vítima do tiroteio na escola primária de Sandy Hook, em Newtown, há três anos, Obama anunciou um novo plano para dificultar a venda de armas no país. O tema, que tem despertado amplas discussões nos Estados Unidos, levou o presidente americano às lágrimas. “O lobby das armas pode ter o Congresso como refém, mas não pode ter a América”, afirmou Obama, que lançou o projeto sem consultar o Congresso, controlado pela oposição republicana. Ele havia feito o mesmo quando decidiu retomar as relações com Cuba (sem que os parlamentares aprovassem a retirada do embargo econômico à ilha) e decretou uma reforma no sistema imigratório (que protege da deportação milhões de estrangeiros que vivem no país sem documentos). A proposta divulgada logo na primeira semana de janeiro mostra que o presidente americano está disposto a aproveitar seu último ano na Casa Branca para tratar de grandes temas e ser lembrado como um estadista.

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CHORO
Obama lançou o projeto sem consultar o Congresso

Durante o discurso, Obama deixou claro que essa não é uma campanha pelo desarmamento. Ao mesmo tempo em que defendeu a manutenção da Segunda Emenda da Constituição, que garante a todos os cidadãos americanos o direito de portar uma arma, ele pediu que o Congresso atuasse de acordo com o desejo dos americanos. Isso porque, por mais que a Segunda Emenda tenha ares sagrados no país, as pesquisas mais recentes mostram que a maioria dos cidadãos é favorável a expandir a verificação de antecedentes criminais para a compra de armamentos. Hoje só passa por esse controle quem adquire armas em lojas físicas. Agora, essa exigência se expandirá para compras online e em feiras e eventos de exposição, em que os vendedores precisarão ser licenciados. O plano inclui também mais recursos do Estado para o tratamento de doenças mentais.

Pré-candidata à Presidência pelo Partido Democrata, Hillary Clinton apoiou as medidas, que foram rechaçadas pelos pré-candidatos da oposição, o que indica que esse será um tema central para a campanha deste ano. Historicamente, os eleitores do Partido Republicano são os mais refratários à ideia de restringir a compra de armas. “O fato é que as propostas do presidente não impediriam nenhum dos eventos horrorosos que ele mencionou”, disse, em nota, Chris Cox, diretor executivo da Associação Nacional do Rifle, que coordena o lobby do setor nos EUA. Para ele, o anúncio não passou de uma “exploração política.” Num e-mail destinado aos militantes democratas, Obama respondeu à provocação: “Sabemos que não podemos impedir todos os atos de violência, mas e se tentássemos impedir apenas um?”

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Fotos: REUTERS/Carlos Barria