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A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2015 com alta de 10,67%, a maior taxa anual desde 2002 (12,53%), informou nesta sexta-feira, 8, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dezembro, o índice teve alta de 0,96% ante 1,01% em novembro.

O resultado anual ficou próximo ao piso do intervalo das estimativas coletadas pela Agência Estado, que ia de 10,66% a 10,88%, com mediana de 10,78%. Em 2014, o IPCA havia sido de 6,41%.

Os chamados preços administrados são os principais responsáveis pela volta da inflação ao patamar de dois dígitos, o que não se via há 13 anos. Esses são os itens cujos preços são controlados pelo governo – como energia, gasolina, gás de cozinha e plano de saúde. As contas de energia elétrica aumentaram, em média, 51%, e São Paulo (70,97%) e Curitiba (69,22%) tiveram os maiores aumentos.

Marcado por aumentos como o de 51% na energia elétrica, de 20,10% na gasolina e de 15,09% no ônibus urbano, o ano de 2015 fechou com uma alta de 18,08% nos preços administrados. Já os serviços subiram em menor ritmo, 8,09% no ano passado, abaixo da inflação média (10,67%). A principal pressão veio da alimentação fora do domicílio (10,38%), enquanto a maior baixa ocorreu em passagens aéreas, que ficaram 15,23% mais baratas.

O desequilíbrio nas contas públicas, segundo os especialistas, também contribui para a escalada dos preços em 2015. Isso ocorre porque o aumento dos gastos do governo injeta dinheiro na economia, o que estimula a demanda e, por fim, acaba gerando inflação na ponta da cadeia.

Os dados do IBGE confirmam a expectativa de rompimento do teto da meta perseguida pelo governo, que é de 4,5% com tolerância de 2,0 pontos porcentuais para mais ou menos. A última vez que isso aconteceu foi em 2003, quando o IPCA fechou o ano em 9,30% – o teto também era de 6,5% naquela época.

Em 2016, a expectativa é de que a inflação siga pressionada, podendo fechar, novamente, acima do teto da meta. Segundo as projeções de analistas do mercado financeiro divulgadas no último Boletim Focus, o IPCA de 2016 deve ficar em 6,87%.

Carta aberta

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá agora de escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para justificar publicamente os motivos que levaram ao estouro da meta de inflação. Isso porque em 1999 o governo federal adotou o sistema de metas de inflação para dar um sinal claro ao mercado. Desde então, em caso de descumprimento da meta, o presidente do BC precisa se explicar.

Em 17 anos, presidentes do BC tiveram de redigir esta carta aberta, encaminhada ao ministro da Fazenda, em três ocasiões. A última vez que isso aconteceu foi em 2003, quando Henrique Meirelles teve de se explicar ao ministro Antonio Palocci. A carta deve conter uma descrição detalhada das causas que levaram ao estouro do teto, seguida de uma lista de providências para que a inflação retorne aos limites estabelecidos. Por fim, é preciso que o presidente do BC apresente um prazo para que tais providências surtam efeito.

Energia elétrica

A energia elétrica foi, de longe, a maior pressão individual sobre a inflação em 2015. Com uma alta média de 51%, as contas de energia adicionaram 1,50 ponto porcentual à taxa de 10,67% acumulada pelo Índice IPCA. Os combustíveis, com alta de 21,43%, também pressionaram e acrescentaram 1,04 ponto porcentual ao IPCA. Só o litro da gasolina subiu 20,10% em média, enquanto o etanol ficou 29,63% mais caro. Com isso, energia elétrica e combustíveis responderam, sozinhos, por 24% do IPCA de 2015.

Em 2015, o consumidor passou a pagar mais caro por todos os grupos de produtos e serviços que compõem o custo de vida, especialmente pelas despesas relativas à Habitação, que subiram 18,31%. O botijão de gás, com alta de 22,55%, também contribuiu, assim como a taxa de água e esgoto (14,75%), o condomínio (9,72%) e o aluguel (7,83%).

Alimentação

Os gastos com alimentação e bebidas subiram 12,03% em 2015, o maior impacto de grupo na inflação (3 pontos porcentuais) anual de 10,67%. Entre os alimentos consumidos em casa, a alta foi generalizada, e nos bares e restaurantes tampouco houve alívio.

Segundo o IBGE, vários produtos apresentaram fortes altas no ano passado, destacando-se a cebola (60,61%), o tomate (47,45%), a batata-inglesa (34,18%) e o feijão-carioca (30,38%), produtos importantes na mesa do consumidor. Também aumentaram de preço o cafezinho (15,67%) e a cerveja consumida fora de casa (13,21%). Em cinco das 13 regiões investigadas pelo IBGE, a alta de alimentos subiu mais de 13%. Em Curitiba, houve a maior alta: 13,87%.