Quando o Rio de Janeiro foi eleito cidade-sede da Olimpíada de 2016, há seis anos, o Brasil passava por um momento bem diferente do atual. Uma grave recessão, a perda do grau de investimento, uma série de escândalos de corrupção e a abertura de um processo de impeachment pareciam distantes do horizonte de um País que havia se tornado alvo da mídia e dos investidores internacionais. Agora, com a imagem altamente comprometida no Exterior, o Brasil sofre com a desconfiança de todos os lados. O cenário, porém, tem data para mudar. Quando os primeiros dos 10,5 mil atletas de mais de 200 países que competirão na Olimpíada e na Paraolimpíada de 2016 desembarcarem no Rio, trazendo o comprometimento com o esporte e a esperança de medalhas, o País terá uma oportunidade rara de resgatar a sua reputação. Mais de 380 mil turistas devem prestigiar os 27 dias de evento, além de 70 mil voluntários e 93 mil funcionários contratados. “Tenho absoluta certeza de que a Olimpíada vai ajudar o País a recuperar a sua imagem e atrair novos investimentos”, diz o prefeito do Rio, Eduardo Paes. “Ela representa uma enorme janela de oportunidades em um momento de crise.”

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QUASE PRONTO
Triatleta participa de evento-teste na Praia de Copacabana.
Abaixo, projeção da vista aérea do Parque Olímpico

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Há boas razões para acreditar que o País ficará entre os 10 primeiros no quadro geral de medalhas, como almeja o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), superando a concorrência direta de países como Canadá, Cuba e Espanha. “Essa foi a melhor preparação do Brasil em sua história. Ganhamos 67 medalhas em campeonatos mundiais ou competições equivalentes”, diz Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esportes do COB. “O País e o Rio de Janeiro ganharam projeção mundial e hoje somos objeto de desejo de qualquer estrangeiro, que quer conhecer o Brasil e estar aqui para os Jogos Olímpicos.” Considerando os esportes coletivos, o COB espera ter cerca de 150 atletas medalhistas. É por isso que, nos últimos quatro anos, o Brasil reforçou o investimento no esporte. Segundo o governo federal, atletas, técnicos e confederações receberão, entre 2013 e 2016, R$ 1 bilhão investidos em infraestrutura, treinamento, salários e contratações de peso. Durante o ciclo olímpico, esse dinheiro ajudou a atrair uma leva de treinadores estrangeiros, referências em modalidades como ginástica artística, polo aquático e canoagem. Foi assim, por exemplo, que o canoísta Isaquías Queiroz se tornou campeão mundial e garantiu sua vaga para a Rio 2016.

Além das estrelas ascendentes, os Jogos do Rio serão uma oportunidade para os brasileiros verem de perto estrelas consagradas. Em sua melhor forma, Neymar virá disposto a afastar de vez o fantasma do 7 a 1 que paira sobre a seleção masculina de futebol, enquanto Marta, maior artilheira da história do futebol brasileiro, comandará o time feminino rumo a seu primeiro ouro olímpico. Os Jogos de 2016 também entrarão para a história por simbolizar a despedida de alguns dos melhores atletas de todos os tempos. Entre eles, o jamaicano Usain Bolt, campeão olímpico nos 100m, 200m e revezamento 4x100m em Pequim e Londres, o nadador Michael Phelps, maior medalhista de todos os tempos, e os os jogadores da NBA LeBron James e Kobe Bryant.

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Para fazer frente ao espetáculo esportivo, as autoridades correm para entregar a estrutura a tempo. Até dezembro, oito meses antes da cerimônia de abertura, a maioria das obras já estava 90% concluída. “Hoje o Rio é uma cidade bem diferente daquela que foi escolhida para receber o maior evento do planeta”, afirma Joaquim Monteiro de Carvalho, presidente da Empresa Olímpica Municipal (EOM). “Com uma infraestrutura de turismo renovada e instalações esportivas construídas de acordo com a realidade brasileira, a cidade terá mais condições de atrair turistas e negócios.” Como na Copa, o Rio quer surpreender. Em 2014, a ampla maioria dos estrangeiros aprovou a organização do evento e a segurança pública superou as expectativas, como mostrou uma pesquisa do Instituto Datafolha. “Mais de 80% dos turistas que estiveram no Rio durante a Copa disseram que voltariam”, diz o presidente da EOM. Parte disso se deve à hospitalidade do brasileiro, considerado e receptivo por nove em cada dez visitantes. Isso será fundamental para o desafio do ano que vem, que será maior do que o de 2014. Nas primeiras 12 horas da Olimpíada, mais pessoas estarão circulando pela cidade do que nos sete jogos sediados no Maracanã durante o Mundial.

O Rio passou, nos últimos anos, por uma profunda transformação urbanística, a terceira ao longo de sua história. Como as principais instalações esportivas estarão na Barra da Tijuca, a Olimpíada aproximará a zona oeste do restante da cidade por meio do transporte público. Até o evento, a cidade inaugurará a Linha 4 do metrô, que vai da Barra a Ipanema, na zona sul, além de linhas de ônibus articulados que circulam em vias seletivas, os BRTs, e de veículos leves sobre trilhos (VLTs), que estão entre os principais legados que ficarão para a população. A revitalização da zona portuária, no centro do Rio, é mais um deles. Com a demolição do Elevado da Perimetral, que antes escondia as fachadas do Museu Histórico Nacional e do Museu da Imagem e do Som, nasceu um novo ponto turístico. A poucos passos dali, a cidade inaugurou o Museu do Amanhã, na Praça Mauá. Desenhada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, a obra impressiona com seus 20 metros de altura.

Não por acaso, o Rio se espelha em Barcelona, modelo de uma Olimpíada bem-sucedida. Antes de sediar os Jogos de 1992, a orla da cidade catalã era uma zona industrial e degradada. Com a revitalização promovida pelo evento, Barcelona ganhou praias e gerou mais de 20 mil empregos permanentes. Desde então, ela nunca mais saiu da lista das cidades mais visitadas do mundo. Mais do que isso: a Olimpíada fez nascer uma geração de esportistas espanhóis brilhantes, da qual fazem parte o tenista Rafael Nadal e o jogador de basquete Pau Gasol. O Rio – e o Brasil – tem tudo para seguir os mesmos passos.

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Fotos: AP Photo/Felipe Dana; Divulgação; Danny Moloshok/Reuters