Há pouco menos de uma década, a Siemens, uma das maiores empresas do mundo, viveu uma situação muito semelhante à enfrentada pelas empreiteiras brasileiras envolvidas na Lava Jato. Investigadores europeus e americanos descobriram uma intrincada rede global de corrupção abastecida pela companhia. A Siemens pagava propina para entes públicos em mais de 30 países para conquistar contratos de prestação de serviço e venda de equipamentos. Diante do mar de evidências coletadas pelos investigadores, em 2008 a companhia declarou-se culpada e pagou mais de US$ 1,4 bilhão em multas.

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ACELERADOR:
Os acordos de leniência são importantes para punir as empresas sem necessariamente destruí-las

Mas o que realmente salvou a Siemens da bancarrota e a levou de volta ao time das grandes empresas mundiais foi sua decisão de colaborar com as investigações. Por meio do acordo de leniência, a Siemens colaborou com as justiças americana e europeia e criou um importante código de conduta para que erros como esse não voltassem a acontecer.

O caso, emblemático, é um bom exemplo para as companhias brasileiras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras. “As companhias deveriam ter mais transparência e fiscalização em todos os procedimentos”, diz Luciano Santos, advogado e cofundador do Movimento Nacional de Combate a Corrupção Eleitoral. Segundo ele, o Brasil passou a ser mais respeitado depois que a Lei Anticorrupção entrou em vigor, em janeiro de 2014.

Até agora apenas a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez aceitaram fazer um acordo de leniência. Vão pagar cerca de R$ 1 bilhão em multas e se comprometeram a criar um rígido código de conduta. Na semana passada, o governo editou uma medida provisória que permite a participação do Ministério Público nos acordos de leniência firmados com empresas privadas acusadas de corrupção e dá às elas o direito de continuar participando de contratos com a administração pública. Segundo a presidente Dilma Rousseff, o objetivo é dar celeridade aos acordos sem destruir empresas ou fragilizar a economia. É um bom começo, mas a legislação ainda vai precisar avançar nesse tema.

Foto: Katarine Almeida