Em fevereiro deste ano, quando ISTOÉ revelou com exclusividade as operações suspeitas de um pecuarista que tinha livre acesso ao Planalto, José Carlos Bumlai era um personagem obscuro na cena política brasileira. Na semana passada, já preso, Bumlai fez certamente a confissão mais elucidadora e veemente do “modus operandi” característico dos escândalos investigados pela Lava Jato. Passo a passo, o empresário confirmou cada uma das denúncias da Revista. Admitiu que pegou R$ 12 milhões em empréstimos de maneira irregular, sem lastro, junto ao Banco Schahin. Que repassou o dinheiro ao PT, via laranjas. Que o dinheiro foi para a campanha do seu amigo, o ex-presidente Lula. Que, em contrapartida, o Grupo Schahin recebeu um contrato superfaturado da Petrobras.E que os dois ex-tesoureiros do PT, Delúbio Soares, já condenado no Mensalão, e João Vaccari Neto, processado por corrupção e lavagem de dinheiro, estavam envolvidos na negociata.Em mais de seis horas de depoimento à Polícia Federal, Bumlai simplesmente colocou todas as cartas na mesa e ainda apontou que o esquema foi sugerido pelo presidente do Banco, Sandro Tordin. O benefício de lado a lado – para o petista Lula e o Banco Schahin – estava estabelecido. Note-se que o réu confesso Bumlai agiu nessa opereta burlesca apenas com a credencial de amigo de Lula. Ele não era empreiteiro, nem sequer tinha negócios diretos com a Petrobras. Participou de tudo, como disse, porque “quis fazer um favor, uma gentileza a quem estava no poder”. Assim Bumlai foi costurando seu relacionamento com Lula e entrou para o restrito ciclo de íntimos da mais famosa família Silva do País. Nos últimos tempos várias fotos, documentos e relatos dessa proximidade vieram à tona. O empresário passou a ser também conhecido por emprestar jatinhos aos “lulinhas” e por participar de festas juninas organizadas por Dona Marisa na residência oficial. Bumlai teria ainda pedido ao lobista Fernando Baiano o pagamento de R$ 2 milhões para quitar uma dívida relacionada a uma nora do ex-presidente Lula, segundo denúncia de “O Globo”. Nas atuações diversas já comprovadas e agora com o seu próprio testemunho ficou ainda mais claro o profundo elo de interesses entre o pecuarista, o PT e o seu principal líder, Lula. Seria nesse contexto estranho os investigadores ao menos não desconfiarem de uma eventual participação do ex-presidente nas maracutaias descobertas até aqui. Lula, na semana passada, foi ouvido na PF. Por enquanto como testemunha. No passado, o comandante petista disse que nada sabia sobre o Mensalão. Nem desconfiava da participação de seus colaboradores mais próximos, como o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. De lá para cá, inúmeros personagens que orbitam em torno do Lula foram parar atrás das grades. Bumlai inclusive. E ele continua a negar qualquer conhecimento sobre os esquemas de roubalheira que quebraram o País. Numa cantilena repisada como mantra, Lula alega que tudo não passa de conluio contra o PT. Nas palavras literais do chapa Bumlai, em depoimento à PF, a “estrutura da Petrobras era do PT”. E ali ao menos US$ 40 bilhões foram saqueados. Mas Lula, Dilma & Cia sequer perceberam.


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