Aos sete anos, Michel Miguel Temer Elias Lulia brincava nos arredores da igreja na pequena Tietê, no interior paulista, quando leu no muro a palavra “temperança”. O miúdo garoto não sabia qual era o significado daquilo. Ao chegar em casa, correu ao dicionário para desvendar o mistério. “Apesar da pouca idade, vi que falava sobre moderação. Isso me marcou muito, nunca me esqueci”, declarou o vice-presidente Michel Temer em entrevista exclusiva à ISTOÉ. “Eu não aprecio radicalismos e nem aprecio radicalistas. Sou pelo diálogo, por encontrar um meio termo. Eu adotei a temperança e acho que tem dado bons resultados”, afirmou.

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EQUILÍBRIO
Michel Temer: ”Sou pelo diálogo, por encontrar um meio termo”

Conciliador, sereno e avesso a arroubos, Temer, 75 anos, é acima de tudo um pacificador. Num ano de depressão econômica e turbulência política, o vice, dono de atuação discreta no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, cumpriu um necessário papel em favor da governabilidade, por isso foi escolhido o Brasileiro do Ano na Política.

No início de 2015, quando os partidos aliados sabotavam os projetos do governo e colocavam em risco o ajuste fiscal, Temer assumiu a articulação política. No Palácio do Jaburu, levou a cabo um modelo de eficácia garantida onde a máxima é: “pleito combinado não é caro. É atendido”. Mas as interferências da Casa Civil, que insistia em boicotá-lo, o levaram a abandonar o posto. Agora, no apagar das luzes do ano, diante da perspectiva do aprofundamento da crise político-econômica, evoca para si a tarefa de tentar reunificar o País. “Estamos caminhando para uma sociedade ‘desarmonioza’. E os brasileiros precisam se harmonizar.”

Nos últimos meses, ao lado do presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, o vice-presidente confeccionou um documento, o “Ponte para o futuro”, rebatizado de “Plano Temer”, em que defende caminhos diferentes dos adotados pelo governo para tirar o Brasil do atoleiro. O conjunto de propostas afirma que o País se encontra em uma situação de grave risco, numa profunda recessão sem data para acabar. Seus movimentos, bem como o desenvolvimento de um projeto para o País, o credenciaram no meio empresarial e político como alguém talhado para apaziguar o ambiente inflamável e promover um pacto nacional, em meio ao processo de impeachment contra Dilma, qualquer que seja o seu desfecho.

A fama de pacificador atribuída a Michel Temer remonta a 1992, quando ele assumiu a Secretaria de Segurança de São Paulo com a missão de tentar resolver a profunda crise no setor ocasionada pela chacina dos presos do Carandiru.  Em seu primeiro ato como secretário, convocou a sociedade civil para participar da política de segurança. Pela primeira vez, representantes de entidades ligadas aos direitos humanos conquistaram assento no Conselho da Polícia Civil. Em um ano, reduziu drasticamente as mortes de civis em conflitos com a PM.

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O estilo Temer também pode ser depreendido do episódio da carta-desabafo que enviou à presidente no dia 7 de dezembro. Antes de encaminhá-la a Dilma, falou com um de seus principais conselheiros, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco: “A presidente está me pressionando, preciso ter uma conversa com ela.  Há coisas que há muito tempo deveriam ser ditas”. Na segunda-feira, pela manhã, fechou-se no escritório de sua casa, em Alto de Pinheiros, em São Paulo, e começou a redigir a carta. Mas achou que não poderia fazer isso sem ouvir mais gente. Convocou mais conselheiros a seu escritório político. Conversou com seus amigos Elsinho Mouco, Gaudêncio Torquato, José Yunes e Eliseu Padilha. Escreveu a carta à mão.

O texto foi datilografado por sua secretária e então enviado à presidente. Como todo ser humano, enviou a carta e ficou apreensivo. Não queria ser mal interpretado, mas sabia que as circunstâncias lhe cobravam posicionamento. Assustou-se com a magnitude da repercussão. Mas, no fim das contas, considerou ter tomado a melhor decisão. O documento virou um marco de sua inflexão pessoal. No mesmo dia, foi aplaudido de pé na Federação do Comércio em São Paulo. Dos mais entusiasmados, ouviu: como a carta de Getúlio, tornada pública no fatídico 25 de agosto de 1954, a redigida por Temer o fez sair, não da vida, mas do governo para, quem sabe, entrar na História.


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