Fundado há menos de dois anos, o partido de extrema-esquerda Podemos, comandado pelo professor universitário Pablo Iglesias, se transformou em pouco tempo na principal voz da juventude espanhola. No começo do ano, embalada pelo então sucesso do Syriza, na Grécia, que também prometia acabar com a austeridade, a sigla chegou a liderar as pesquisas de opinião para as eleições gerais. Em maio, conquistou as prefeituras de Madri e Barcelona. Mas, com a proximidade do pleito do domingo 20, o movimento perdeu fôlego. “Nesse período, o Podemos apresentou muito poucas propostas”, diz Alejandro Barón, pesquisador da Universidade Johns Hopkins. Agora, o grupo aparece em terceiro ou quarto lugar, dependendo do instituto de pesquisa.

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OPOSTOS
Pablo Iglesias, do Podemos.Abaixo, Mariano Rajoy, do PP: fim do velho bipartidarismo

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O bipartidarismo, que dominou o cenário político após o fim da ditadura franquista nos anos 70, perdeu espaço com a crise econômica (deflagrada no governo do socialista José Luis Zapatero) e uma série de escândalos de corrupção (que, durante o governo de Rajoy, chegaram até a família real). “Num contexto caracterizado por forte aumento do desemprego, a corrupção começou a ser percebida com indignação pelos espanhóis”, diz Juan Agulló, pesquisador da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. “Por isso, os movimentos de dissidência deixaram de ser ignorados e passaram a ser considerados como alternativas possíveis.”

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Se confirmado o cenário desenhado pelas pesquisas, constituir um governo será o primeiro desafio do próximo premiê, já que nenhum partido deverá obter a maioria absoluta do Parlamento. A formação de uma coalizão será tarefa inédita no país. O Partido Popular, de Rajoy, deve ficar em primeiro, mas com quase metade dos votos que conquistou nas eleições de 2011. A aliança com o Ciudadanos é o caminho mais natural, mas ao líderes do partido já avisaram que, para isso, Rajoy deverá ceder sua cadeira.

Fotos: JAIME REINA, JORGE GUERRERO – AFP