Nos últimos dois anos, o governo brasileiro foi incapaz de produzir alguma notícia positiva a respeito da economia do País. Queda dos investimentos, inflação sem controle, desemprego em alta, recuo recorde do PIB, desequilíbrio fiscal, tudo isso gerou uma onda generalizada de insatisfação que tende a tornar a retomada mais complicada. Na semana passada, o Brasil finalmente pôde vislumbrar um sinal favorável. Ele, porém, não é resultado de alguma iniciativa da presidente Dilma. A boa nova veio da Argentina, país que acaba de varrer, pelas urnas, o populismo da peronista Cristina Kirchner. Na segunda-feira 14, o novo presidente, o liberal Mauricio Macri, anunciou um conjunto de medidas econômicas que deve trazer proveito para além das fronteiras argentinas. Segundo especialistas, os países da América do Sul, especialmente o Brasil, serão beneficiados. “A partir de agora, a Argentina será um país mais aberto e competitivo”, disse Macri. “Acabou a era dos equívocos.”

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MUDANÇA
Macri com sua equipe de governo: ele começou a
cortar regras excêntricas do kirchnerismo

A primeira medida trará resultados imediatos para os exportadores brasileiros. Macri eliminou uma resolução excêntrica chamada de Declaração Jurada Antecipada de Importação, que controlava a entrada de produtos estrangeiros. Criada pelo kirchnerismo para amenizar a supervalorização do peso e a fuga de dólares, a Declaração já havia sido condenada pela Organização Mundial de Comércio. Com o fim do instrumento de controle, o país, na prática, se torna mais aberto a importações. Como o Brasil é um dos principais parceiros comerciais da Argentina, a tendência é que artigos brasileiros ganhem mais espaço no território vizinho. Outra mudança foi o corte de impostos sobre exportações de grãos, o que favorece empresas do Brasil interessadas em comprar insumos. Na quarta-feira 16, Macri anunciou a medida mais efetiva: a retomada do regime de câmbio flutuante, em que a cotação da moeda é definida pela oferta e procura. Promessa de campanha de Macri, a alteração deve trazer maior previsibilidade à economia do país. Os efeitos da medida começaram a ser sentidos um dia depois do anúncio. A cotação do peso argentino despencou 30%, a maior desvalorização desde a crise econômica de 2002.

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Foto: JUAN MABROMATA/AFP