Cunhado da ex-primeira dama Rosane Collor, Vitório Malta (PDS-AL) havia sido o deputado mais bem votado em seu Estado, nas eleições de 1990. Dois anos depois, ele se tornaria um dos 38 parlamentares a votar contra o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Dirigindo-se ao então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, Vitório ajeitou o microfone, durante a sessão aberta transmitida ao vivo para todo o Brasil, e não titubeou: “Senhor presidente. Pelo Brasil, por Alagoas e pelo direito de defesa, meu voto é não”. A decisão na contramão dos clamores populares selaria o seu destino político. Por 22 anos, Vitório colecionou derrotas. Não conseguiu mais se eleger para nada. Em 2010, um pequeno consolo: conseguiu uma vaga na Câmara de Vereadores do pequeno município de Maravilha.

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O processo de impeachment de Dilma Rousseff ainda está em seu início e o desfecho, em meio a um cenário de crise política e econômica, não deve ocorrer antes de março do próximo ano. Mas se o destino político da presidente será definido apenas depois do primeiro trimestre, uma certeza se impõe de maneira inexorável antes mesmo do resultado da refrega política: como em 1992, a população estará atenta ao comportamento dos parlamentares que participarão do processo de afastamento. A conta fatalmente será cobrada nas eleições seguintes. Essa preocupação já ronda o Congresso Nacional, especialmente em um contexto em que 70% dos brasileiros avaliam o atual governo como ruim ou péssimo, segundo pesquisa divulgada pelo Ibope na última semana.

A história mostra que o caso de Vitório não foi isolado. O destino foi implacável para os que se colocaram contra a opinião pública no ano do impeachment de Collor. Entre os que defenderam a permanência do ex-presidente, apenas uma minoria conseguiu sobreviver politicamente. Outro que amargou na pele os efeitos do voto favorável a Collor foi o então deputado federal Elísio Curvo. Amigo pessoal do ex-presidente e também filiado ao Partido da Reconstrução Nacional (PRN), Curvo tentou se reeleger por diversas vezes mas o máximo que alcançou foi uma suplência, nas eleições de 1994, pelo PTB. Na época, ele classificou o processo de impeachment contra o alagoano como um “cruel e traiçoeiro linchamento” e disse que se recusava a ceder ao apelo popular e dar um “voto de covarde”.

Futuro parecido teve o baiano Ângelo Magalhães (PFL). Ao concluir seu quarto mandato, em 1994, o deputado federal tentou uma nova reeleição, mas perdeu a disputa e teve de se contentar com a suplência. A influência exercida por seu irmão no estado, o senador Antônio Carlos Magalhães, não fora suficiente para o seu triunfo eleitoral e Ângelo passou a depender de indicações de aliados locais para se manter na vida pública, onde permaneceu até sua morte, em 2005.

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Primo do ex-presidente, o então deputado federal pelo PRN de São Paulo Euclydes Mello dependeu da recuperação política do familiar para retornar ao Congresso. Regressou apenas em 2003, desta vez como suplente de Collor, pelo PRB. Sem sucesso, Euclydes havia tentado uma candidatura a governador de Alagoas, em 1998. Já como suplente no Senado, ele tentou novamente se reerguer e disputou, em 2008, a prefeitura de Marechal Deodoro. Ficou em terceiro lugar.

Defensor da permanência de Collor, o gaúcho Carlos Sá Azambuja chegou a se lançar na briga pelo Senado nas eleições seguintes, mas amargou o oitavo lugar na corrida.

Entre os integrantes da tropa de choque de Collor, houve quem conseguiu uma sobrevida política. Entretanto, parte desse grupo enfrenta problemas com a Justiça. É caso do delator do Mensalão Roberto Jefferson (PTB-RJ), preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em 2014. Hoje, sua filha e presidente nacional da sigla, Cristiane Brasil (PTB-RJ), ao contrário do pai no caso Collor, trabalha arduamente pelo impeachment de Dilma Rousseff.

O empresário do ramo imobiliário Paulo Octávio (PP-DF) também esteve entre os 38 escudeiros do alagoano, em 1992. Apoiado em sua fortuna pessoal, ele não enfrentou muitas dificuldades para se manter na política. Reeleito como deputado federal em 1994, ele ainda venceu a disputa ao Senado e, em 2006, foi eleito vice-governador de José Roberto Arruda no Distrito Federal. Com a deflagração a operação Caixa de Pandora, Arruda e Paulo Octávio renunciaram.
 


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