ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

ACUSAÇÃO Inocêncio convenceu-se da culpa do ex-líder sindical (acima)

A vida política do deputado Paulo Pereira da Silva (PDTSP), o Paulinho da Força Sindical, está com os dias contados: tanto no campo da Justiça quanto na esfera política sua situação se torna cada vez mais insustentável. Na terça-feira 27 o procurador- geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para investigar o envolvimento do deputado no esquema de pagamento de propinas para liberação de empréstimos no BNDES. No mesmo dia, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), anunciou o envio ao Conselho de Ética de representação contra o deputado pedindo a cassação de seu mandato. O nome de Paulinho aparece nada menos que 75 vezes no inquérito da Operação Santa Tereza, que investigou o desvio de recursos no BNDES. É uma situação que só tende a se agravar. “Não investigamos o Paulinho”, revela o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. O nome do deputado surgiu indiretamente, a partir da investigação de amigos e de pessoas ligadas ao esquema. “Paulinho surge o tempo todo, é como uma rede”, continua Corrêa.

Foi com base na documentação reunida pela PF na Operação Santa Tereza que o corregedor da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PR-PE), decidiu pedir a cassação do ex-sindicalista. “Não tenho a menor dúvida de sua culpabilidade. Mais do que isso, me parece que ele é o mentor de tudo”, diz Inocêncio. O corregedor acha que o destino do pedetista já está selado na Casa: “Vejo unanimidade na Câmara para cassá- lo, pois o caso é gravíssimo”.

SÉRGIO LIMA/FOLHA IMAGEM

Um dos pontos que evidenciam a responsabilidade de Paulinho é o seu envolvimento com João Pedro de Moura, um dos indiciados pelos desvios no BNDES. Ele é acusado de ser o responsável pela cobrança da propina a prefeitos e empresários em busca de dinheiro no banco oficial. Moura foi assessor de Paulinho na Força Sindical e o deputado dizia que não tinha mais nenhuma relação com ele. Mas a investigação mostra que Moura esteve pelo menos 12 vezes desde o ano passado no gabinete de Paulinho, no segundo andar do Anexo IV. As fitas de vídeo que exibem as visitas foram enviadas ao Conselho de Ética. Segundo Inocêncio, ele evitava o burburinho subindo pelas longas escadas do Anexo IV. Inocêncio diz também que a casa de prostituição paulista WE pagava despesas de viagem de Moura. Seu advogado, Frederico Crissiúma, afirma que não vê nenhum problema no fato de o seu cliente ter visitado o gabinete de Paulinho, já que ele trabalhou para a Força Sindical. E garante que o dono da WE, Manuel Fernandes de Bastos Filho, é amigo de Moura.

Apesar de o laço estar se apertando, Paulinho ainda tem trunfos. A Corregedoria defendia a abertura imediata de processo mas o novo presidente do Conselho de Ética, Sérgio Moraes (PTB-SP), eleito na quarta-feira 28, assumiu avisando que precisa de 15 dias para que seja instaurada uma representação por quebra de decoro. Com isso, Paulinho ganha um prazo maior para se defender, bem como a chance de renunciar ao mandato para evitar a cassação – com o processo instaurado, ele não poderia mais fazer isso. Inocêncio estrilou e pediu que Moraes fosse denunciado por infração ao Código de Ética, por não ter aberto imediatamente a representação. Respondendo a processos como ex-prefeito de Santa Cruz do Sul (RS) por contratações sem concurso e instalação de telefone público no armazém de seu pai, Sérgio Moraes saiu-se com esta: “A Justiça leva oito, nove anos para julgar e vocês não cobram dela.”