A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vive nesta semana um vácuo de poder que pela primeira vez em décadas pode permitir mudanças efetivas em seu comando. Porém cartolas da atual cúpula se movimentam nos bastidores para conquistar, mais uma vez, as rédeas da entidade. Indiciado por corrupção pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, na quinta-feira 3 o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, se afastou por até 150 dias. Como dentro da confederação sua saída definitiva é dada como certa, a entidade está em pé de guerra para decidir o próximo na linha sucessória. Estão na briga nomes bancados pelo próprio Del Nero e por seus rivais internos, enquanto os principais clubes do País e os jogadores do Bom Senso buscam conquistar mais influência na CBF. Mas mudanças efetivas na entidade, corroída por escândalos de corrupção, são brecadas por um regimento sucessório que torna praticamente impossíveis candidaturas independentes.

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SUCESSÃO
Acima, a sede da CBF, no Rio de Janeiro. Abaixo, Marco Polo Del Nero,
afastado da entidade: saída definitiva é dada como certa

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Com o afastamento, Del Nero escalou como interino o deputado capixaba Marcus Vicente (PP). Na quarta-feira 16 caberá a ele conduzir a eleição do novo vice-presidente da CBF, cargo que está vago desde maio, quando o dirigente José Maria Marin foi preso na Suíça por conta da mesma operação americana que agora está no encalço de seu chefe. Além do processo nos Estados Unidos, Del Nero será investigado pelo Comitê de Ética da Fifa e, no Brasil, pela Procuradoria-Geral da República. Mesmo assim, o poderoso dirigente manobra para fazer o novo vice. A posição é importante porque definirá quem comandará a entidade com sua saída – a CBF possui cinco vices e a sucessão é definida pela idade. O mais velho hoje é o presidente da Federação Catarinense, Delfim Peixoto, 74 anos, desafeto de Del Nero. Mas o cartola conseguiu emplacar como candidato o presidente da federação paraense, Antonio Carlos Nunes, 77 anos. Caso eleito ele assumirá, ao invés de Peixoto.

Os clubes de São Paulo decidiram apoiar o candidato de Del Nero, porém planejam forçar novas eleições à presidência, caminho considerado difícil pois depende da renúncia coletiva dos vices. A ISTOÉ apurou que, nesse caso, entre os nomes cotados estão os de José Carlos Brunoro, ex-diretor executivo do Palmeiras, e Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo. Em condição de anonimato, o presidente de um dos grandes times paulistas disse que o aval a Nunes foi dado porque “o Peixoto se acha a pessoa para comandar o futebol brasileiro, e não é”. No entanto, a avaliação dele é que se Del Nero cair “não dá para trabalhar com nenhum dos dois como presidente da CBF (Peixoto ou Nunes)”.

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ALTERNATIVA
O zagueiro do Cruzeiro Paulo André, do Bom Senso, que quer
lançar candidatura própria para presidência da CBF

Para o Bom Senso FC, movimento formado por jogadores de futebol, a solução não está entre os que hoje disputam o poder. “Não representam mudança”, afirma o zagueiro do Cruzeiro Paulo André. Ele propõe o fim da cláusula que só permite apresentação de candidatos a presidente com o apoio de ao menos oito federações estaduais e cinco clubes. Esse é um dos principais impedimentos para que o Bom Senso lance nome próprio. “Esse vácuo é um bom momento para que novos grupos se manifestem”, diz o professor de sociologia do esporte Mauricio Murad. “Mas os atletas precisam se associar a quem estuda, a quem escreve e a quem faz marketing de futebol para chegar ao poder. Esses estão muito mais voltados a parcerias com jogadores do que com diretores.”

Fotos: João Mattos / Brazil Photo Press / Folhapress; FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO