Segunda-feira, 9 de novembro. A Escola Estadual Diadema é ocupada por alunos contra a chamada “reorganização escolar”, proposta do governo do Estado de São Paulo que fecharia 94 colégios, entre outras medidas, sob o argumento de aumentar o número de escolas de ciclo único. Para os alunos, porém, era uma decisão imposta sem margem para debate que prejudicaria o aprendizado. Terça-feira, 17. O movimento se espalha em 38 instituições. Segunda-feira, 23. O número de ocupações aumenta para 100. Sexta-feira, 4 de dezembro. Com mais de 200 escolas ocupadas, o governador Geraldo Alckmin suspende a reorganização propondo que sejam feitas discussões ao longo de 2016. Na sequência, Herman Voorwald, que chegou ao cúmulo de tratar a discussão com os estudantes como se fosse uma guerra, deixa o cargo de secretário de Educação. “Uma grande derrota imposta pelos estudantes”, afirmaram integrantes do Comando das Escolas Ocupadas no domingo 6 de dezembro. Por enquanto, a vitória é deles.

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UNIDOS
Alunos desocupam colégio depois da suspensão da reorganização escolar 

Nos últimos dias, jovens secundaristas do ensino público de São Paulo deram verdadeiras lições de como fazer política e garantir a cidadania. Organizados, tomaram conta das escolas que ocuparam, cientes de seus direitos e deveres, montaram comissões, como as de segurança e limpeza, fizeram reformas, pintaram paredes. Organizaram atividades culturais, shows, saraus e debates. Elencaram demandas gerais, como o fim da reorganização escolar, e pontuais, como mudanças em diretorias. Criaram uma nova relação de convivência no espaço escolar e, com isso, conferiram legitimidade à sua luta. Levaram os pais para dentro da escola e venceram a batalha. Afinal, quem questiona o direito de exigir uma educação de qualidade?

Ainda que houvesse algum envolvimento de movimentos sociais, os estudantes não foram reféns de bandeiras políticas. Nas três visitas que a reportagem de ISTOÉ fez a diferentes escolas, o discurso era totalmente focado no sistema educacional. Falavam não só sobre como seria prejudicial implantar a reorganização, mas também sobre a importância de se discutir outras questões, como reforma curricular e capacitação de professores. A única referência universal foi uma cartilha desenvolvida por estudantes chilenos e argentinos que dá orientações sobre como ocupar uma escola. Vídeos sobre a “Revolta dos Pinguins”, nome dado à mobilização de estudantes no Chile, em 2006, eram exibidos nas instituições ocupadas.

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LUTA
Protestos de estudantes em São Paulo exigiam melhorias no ensino público

Depois de revogada a reorganização para 2016, estudantes começaram a se mobilizar para sair das escolas. Até quinta-feira 10, havia 126 ocupadas, segundo a Secretaria de Educação. As desocupações aconteceram à medida que os jovens conquistaram suas reivindicações, que podiam ser tanto evitar o fechamento da escola quanto pedir a troca de um diretor. A primeira, pelo menos para o próximo ano, já está garantida. Mas há estudantes que ainda não se sentem seguros para dar o próximo passo. Caso do colégio Fernão Dias, o segundo a ser ocupado no Estado, onde o movimento continua. “Estamos em discussão para vermos se confiamos no diálogo que o governador abriu para 2016”, afirma a aluna Thayná Koga, 16 anos.

Para o próximo ano letivo, pelo menos uma certeza já existe: a relação dos alunos com o espaço escolar será outra. “Eles se apropriaram do lugar de quem constrói o colégio e agora entendem como a estrutura funciona”, diz Gabriel Di Pierro, assessor da área de juventude da ONG Ação Educativa. Para a professora Ângela Soligo, do departamento de psicologia educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as mobilizações abriram caminho para que alunos, pais e professores sejam ouvidos e possam dizer o que e como melhorar. “Não dá para voltar para a escola em fevereiro como se nada tivesse acontecido. Esse é o momento da mudança.” A depender dos alunos e da coragem que eles mostraram ter, as escolas nunca mais serão as mesmas.

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Foto: Renato Ribeiro Silva/Futura Press/Folhapress, Eduardo Anizelli/Folhapress