Os ciclos políticos podem ser comparados com as diversas fases da vida. Eles nascem, se desenvolvem de acordo com as suas possibilidades e, por mais que se lute contra isso, o fim será mesmo inevitável. Às vezes, o desaparecimento é antecipado por um choque – uma doença ou um levante popular, no caso dos países –, mas é certo que, em algum momento, ele virá. Em outras situações, o desfecho se deve a um desgaste natural – o envelhecimento, os erros cometidos por maus governantes. Você pode não aceitar a lógica que move as pessoas e o mundo, tem todo o direito de espernear contra os desígnios naturais, pode até mesmo lutar bravamente contra os ventos de mudança, mas é assim que as coisas funcionam.

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SOMBRAS
O nacionalista Lula: em vez de produzir riqueza, a esquerda
deixou os países que governa mais pobres

A América do Sul experimenta neste exato momento um anseio por transformação. Um ciclo está acabando e outro caminha para tomar o seu lugar. Nas três últimas semanas, o populismo foi varrido pelas urnas na Argentina e na Venezuela, dois dos exemplos mais simbólicos do nacionalismo desvairado que se multiplicou no continente desde a eleição do venezuelano Hugo Chávez, em 1998. Na Bolívia de Evo Morales e no Equador de Rafael Corrêa, movimentos populares pedem agora a reciclagem de seus líderes. No Brasil, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff é mais um sinal do crepúsculo da esquerda latino-americana. Dilma pode sair, ou pode ficar até o final de seu mandato. Seja qual for o resultado do processo de impeachment, a onda antiradicalismo está batendo na costa brasileira.

As ondas chegam e levam o que encontram pela frente. Foi sempre assim. Entre as décadas de 60 e 80, ditaduras militares oprimiram, em conjunto, países como Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, variando apenas em intensidade. Depois, o neoliberalismo patrocinado pelos Estados Unidos avançou pelo continente, sendo substituído mais tarde pelo movimento atiçado por Hugo Chávez na Venezuela e reforçado por Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil. Lula chegou a imaginar uma corrente de esquerda latino-americano que seria capaz de destronar o imperialismo americano. Depois, viu que a ideia era uma bobagem, mas ele nunca abandonaria as convicções nacionalistas.

As urnas derrotaram os radicais na Argentina e na Venezuela.
No Equador, protestos de rua gritam por democracia

Em comum, os governos progressistas naufragaram em seus propósitos. Em vez de produzirem riqueza, deixaram os países sob o seu jugo mais pobres. Nesses lugares, a corrupção solapou ideais e arruinou reputações Há alguns dias, o jornal argentino Clarín forjou uma expressão que define com clareza o que representa hoje em dia o populismo no continente. Para a publicação, as “forças progressistas” estão se tornando as “fraquezas do atraso.” É disso mesmo que se trata. Na Venezuela de Hugo Chávez e agora sob Nicolás Maduro, os gastos públicos já respondem por quase 60% do PIB, uma insanidade que exterminou as finanças país. Na Argentina, Cristina Kirchner expropriou bens de empresas estrangeiras e deu calote nos credores internacionais, espantando investidores. No Brasil, os desastres econômicos de Dilma geraram um batalhão de 9 milhões de empregados, ou uma Suécia inteira. Não é preciso muito esforço para entender por que o modelo populista fracassou. Ele, na verdade, tem sido vítima de seus próprios erros. Acredite: a onda virá. E mudará o cenário por completo.

Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO