Desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff, há um ano, o Brasil começou a colecionar alguns dos piores indicadores econômicos de sua história. Os níveis de emprego retrocederam 30 anos. A inflação é a mais alta desde o início da década de 90. O PIB deve encolher 4% em 2015, maior tombo entre os emergentes. Se as previsões de retração de 2% em 2016 se confirmarem, o País terá registrado uma façanha inimaginável: será, em termos financeiros, o pior biênio em mais 100 anos. O cenário é tão sombrio que os investidores sumiram, empresários cancelaram projetos, trabalhadores voltaram à informalidade para ganhar algum dinheiro. No Brasil de hoje, a economia não para de dar sinais negativos. O que está ruim agora será péssimo amanhã. E pior ainda no outro dia. Para muitos analistas, a tragédia nacional é resultado direto das ações desastradas de um modelo de governo que, desde que chegou ao poder, há 13 anos, flertou com o bolivarianismo latino-americano. A economia centrada nas ações do Estado, avessa aos mercados, produz, como a história comprova, mais pobreza que riqueza. A irresponsabilidade na gestão das contas do País, o descumprimento de metas fiscais e a corrupção que assalta os cofres públicos são sinais inequívocos de que o governo brasileiro, em muitos aspectos, repetiu as fórmulas que destruíram as economias dos países bolivarianos. É possível que o Brasil vire uma nova Venezuela?

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PROTESTO
Manifestante em uma rua de Caracas: o radicalismo de
Hugo Chávez e Nicolás Maduro quebrou o país

Antes de responder a essa questão é preciso entender o que se passa no país de Hugo Chávez, agora liderado por Nicolás Maduro. É comum andar pelas ruas das cidades venezuelanas e se deparar com filas imensas diante dos supermercados. Alguns estabelecimentos distribuem senhas. Quem chegar primeiro tem alguma chance de comprar os poucos insumos que mal preenchem as prateleiras. Em alguns municípios, a fila para comprar produtos básicos é de 8 horas. O governo bolivariano destruiu o parque industrial do país. Mais de 70% dos produtos consumidos pelos venezuelanos são importados. De acordo com o último dado disponível, os gastos públicos já respondem por 60% do PIB, percentual que destrói qualquer perspectiva de equilíbrio financeiro. A economia depende de um produto: o petróleo. Com a queda do preço do barril – que hoje está em US$ 47 e só deve voltar a US$ 80 em 2020 –, a Venezuela praticamente quebrou. A situação piorou com as medidas populistas dos radicais que administram o país. O valor dos combustíveis está congelado há 18 anos, apesar da forte oscilação dos preços do petróleo nesse período. Uma única ação irresponsável como essa tem gerado aos venezuelanos perdas anuais de US$ 12,5 bilhões. No Brasil, a presidente Dilma ensaiou uma loucura parecida. No ano eleitoral – nada mais populista, portanto – represou os preços da gasolina e da conta de luz. Como a situação ficou perigosa, Dilma foi obrigada a liberar os preços, o que acabou por alimentar a inflação.

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ESCASSEZ
Gôndolas vazias em supermercados: filas de até 8 horas
para comprar itens de primeira necessidade

Apesar da vocação populista do governo Dilma, é pouco provável que o Brasil se torne uma Venezuela. Pelo menos é o que garantem os especialistas. “O que os dois países têm em comum é que ambos passam por uma profunda crise política”, diz Pedro Costa Júnior, professor de Relações Internacionais da ESPM. “Do ponto de vista econômico, é impossível compará-los.” A população do Brasil é 84% maior. O PIB, dez vezes superior. O parque industrial brasileiro é variado e complexo, o sistema financeiro funciona de maneira independente ao governo, o mercado consumidor, apesar da crise atual, é pujante. No campo institucional, há poucas semelhanças. O Brasil conta com organismos que não se curvam ao poder, como Ministério Público, ordens de advogados, imprensa livre. “O nosso maior problema é a incapacidade da presidente Dilma de negociar e fechar consensos” afirma Reginaldo Nogueira, coordenador de Relações Internacionais do IBMEC. 

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