Mais do que diversionista, é incoerente e zomba do eleitor o empenho mostrado por petistas históricos e aliados da presidente Dilma Rousseff para tentar desqualificar o processo de impeachment que começa a tramitar no Congresso. A já condenada artimanha das pedaladas fiscais, o propinoduto usado para desviar recursos públicos e abastecer os caixas um e dois da campanha eleitoral de 2014, a sequência de casos de corrupção que dia a dia veem à tona e atingem o governo como um todo, as mentiras proferidas à Nação em forma de discursos oficiais, a institucionalização da mercantilização do apoio político. Nada disso, segundo os líderes chapa branca é suficiente para que se afaste a presidente do comando do País. Segundo eles, usar desses fatos para apontar o dedo ao Palácio do Planalto é tentativa de golpe, um atentado contra a democracia, promovido por políticos que almejam chegar ao poder a qualquer preço. “O impeachment deve ser a consequência de um crime objetivo praticado pelo presidente, senão é golpe”, afirmou na última semana o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, um dos mais próximos auxiliares de Dilma, como se não soubesse, por exemplo, que o TCU já condenou as pedaladas fiscais e que a Operação Lava Jato já descobriu dinheiro desviado da Petrobras nas campanhas petistas. Além do cinismo, a argumentação do ministro remete à total incoerência.

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Em junho de 1994, quando era deputado pelo PT baiano, Wagner protocolou um pedido de impeachment contra o então presidente Itamar Franco. O motivo da denúncia foi uma negociação do presidente com Fernando Henrique Cardoso, na época candidato à Presidência e ex-ministro de Itamar, sobre um pacote de medidas a serem anunciadas. Durante o governo de Itamar nenhum caso de corrupção foi comprovado e a sustentação no Congresso foi obtida por entendimentos políticos entre os partidos e não pela compra de apoios.

Para combater o impeachment de Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também apela à incoerência. Na semana passada, disse na Alemanha que a ação contra a presidente “é tentativa de golpe explícita”. O figurino de bombeiro não lhe caiu bem. Em se tratando de impeachment, Lula sempre foi um incendiário. Operou ostensivamente no afastamento de Collor e nos bastidores para tentar afastar Itamar e FHC. Se Lula tivesse mantido seus critérios, seria impossível defender a manutenção de Dilma no poder.

Figura de destaque na luta pelo “Fora Collor” junto ao movimento dos caras-pintadas, o então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lindbergh Farias, era categórico ao exigir que o Congresso determinasse o impeachment do presidente alagoano. Hoje senador pelo PT do Rio de Janeiro, Lindbergh relativiza o clamor das ruas e atribui a uma “minoria golpista” manifestações contra Dilma. Golpe também é a definição encampada pela líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali, que em 1992 exercia seu primeiro mandato como deputada federal. No plenário, em sessão aberta e ao vivo para todo o Brasil, ela votou “sim” pelo afastamento de Collor.  

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