Criador do Facebook, o jovem americano Mark Zuckerberg já garantiu, aos 31 anos, seu lugar na galeria dos homens que mudaram o mundo. Por meio da sua rede social, bilhões de pessoas redefiniram o modo como se comunicam e compartilham conteúdos, experiências e sentimentos. Zuckerberg se tornou bilionário explorando uma tecnologia que nos permitiu ficar mais próximos de pessoas que raramente vemos, comungar ideias com desconhecidos, ter a sensação de viver em um mundo sem fronteiras. Essa semana, ao anunciar que havia se tornado pai de uma menina, pode também ter contribuído para dar o definitivo empurrão ao estabelecimento de um novo modelo de capitalismo. Na mesma postagem no Facebook em que comunicou que sua mulher, Priscilla Chan, havia dado a luz à pequena Max, informou que o casal decidira doar nos próximos anos 99% de sua fortuna, estimada em US$ 45 bilhões (algo próximo, no câmbio atual, dos R$ 180 bilhões) para ações filantrópicas. Trata-se de um gesto cada vez mais comum entre os super-ricos nos Estados Unidos. O que o torna ainda mais relevante é a forma. Ao invés de vincular os recursos a uma fundação, como a grande maioria de seus colegas do clube do bilhão, Zuckerberg optou por empenhá-los na criação de uma empresa com fins lucrativos cuja missão é produzir bem-estar social em larga escala.

Antes mesmo da aplicação do primeiro centavo, já entregou o primeiro resultado. Chamou definitivamente a atenção para um movimento que vem ganhando corpo em diversos países, inclusive no Brasil: o empreendedorismo social. Zuckerberg quer levar a ideia da criação de negócios com propósito – normalmente movidos mais a boas intenções do que a recursos – para outro patamar. A abundância monetária deve garantir um volume de fundos inéditos a pesquisas e oportunidades voltadas ao combate da pobreza ao redor do mundo. A grande questão é que por trás de cada iniciativa deve haver um plano de negócios consistente, que contemple retorno financeiro a ser reinvestido em novas ações. Na prática, pode-se dizer até mesmo que não se trata de uma doação, mas de um investimento de Zuckerberg, em que ele terá mais controle do uso do dinheiro do que, por exemplo, tem Bill Gates em sua fundação. O uso maciço de tecnologia, visando a acelerar processos e desenvolver soluções disruptivas para serem aplicadas em escala global, está no DNA do projeto.

Ao criar uma empresa, Zuckerberg não se ancora em segundas intenções, como a busca de deduções tributárias tão frequentemente embutidas nas fundações filantrópicas. O novo capitalismo social, que começa a se definir ao redor do mundo, é calcado na percepção de que os consumidores do futuro darão cada vez mais valor a negócios sem vícios de origem e com propósito real garantido pela transparência de seus processos. Há sementes dessa nova ordem germinando em diversos pontos do planeta, fomentados por instituições como o movimento internacional “Capitalismo Consciente” ou o “Sistema B”, instituição global para certificação de empresas que utilizam práticas positivas em seu modelo de negócios de impacto e em suas relações com trabalhadores, fornecedores, clientes e comunidade.

Outro resultado imediato do anúncio de Zuckerberg é a disseminação imediata do exemplo, gerando a multiplicação de iniciativas semelhantes e movimentando ainda mais o já aquecido mercado da megafilantropia. Nos Estados Unidos, nomes como Gates e Warren Buffett já se dedicam há anos a convencer seus pares de que ganharão muito mais melhorando a vida de outras pessoas do que gastando milhões em mansões e iates – um deles, o brasileiro Elie Horn, dono da incorporadora Cyrela, confirmou na semana passada sua associação ao “The Giving People”, espécie de clube de doadores organizado pela dupla, e a intenção de doar 60% de seu patrimônio, estimado em US$ 1 bilhão. Ainda mais positivo será o efeito do presente de nascimento da menina Max a todos nós se a intenção de seus pais romper fronteiras como fez o Facebook. E, se possível, chegar ainda mais ao Brasil, onde somos soterrados diariamente pelas mazelas do nosso promíscuo capitalismo de Estado.