Se as negociações durante a 21ª Conferência das Partes das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 21) mantivessem o tom engajado e positivo apresentado pelos países nos primeiros dias de debates, tudo indicaria que o mundo ia chegar finalmente a um acordo climático global. O segundo maior poluidor do planeta, a China, se comprometeu a reduzir 60% de suas emissões do setor de energia até 2020, o que significa reduzir drasticamente as emissões vindas de suas usinas de carvão. A Índia, outra grande nação em desenvolvimento, anunciou uma ambiciosa aliança global com 120 países para impulsionar fonte solar de energia. Outro grupo formado pelos 43 países prometeu 100% de fontes renováveis de energia até 2050. O Brasil reafirmou seu compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030.

COP-1-IE.jpg
LUTA
Ambientalistas protestam em Paris, pedindo mais compromisso dos países ricos

Foi um festival de boas intenções. Até que os negociadores se sentaram à mesa para discutir com quem, afinal, ficaria a maior parte da conta de toda essa transformação. Como os compromissos profundos de cada país precisam ser bem maiores que projetos anunciados com pompa, chegou-se a um impasse. Mais uma vez, o dinheiro foi o principal ponto de discórdia para um pacto climático global. “Todas essas iniciativas são bem-vindas, mas o que a gente precisa daqui de Paris como resultado é de um acordo ambicioso. De compromissos profundos de transformações estruturais”, avalia Pedro Telles, coordenador do projeto de Mudanças Climáticas do Greenpeace Brasil. “E isso, até agora, não está acontecendo”., diz o ambientalista brasileiro, que acompanha de perto as negociações.

Os países mais pobres defendem que as nações desenvolvidas entrem com montante maior de financiamento para custear políticas de mitigação das mudanças climáticas e a transferência de tecnologia, fundamental para o incremento do uso de fontes limpas de energia que desacelerariam as emissões de CO2. As nações ricas, por outro lado, não querem ficar com a maior parte da conta e exigem que a responsabilidade deva ser compartilhada entre todos na mesma medida, com pouca diferença entre desenvolvidos ou não. “A verdade é que não estamos vendo intenção séria de fluxo de recursos dos países mais ricos para os mais pobres”, diz a presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), Suzana Khan.

COP-2-IE.jpg
CENA
Líderes mundiais fizeram muitas promessas, mas ninguém quer pagar a conta

A COP ainda vai se estender por mais uma semana e muita coisa ainda pode acontecer. A esperança é de que os países que mais poluem, não por coincidência os mais ricos, percebam que essa pode ser a última chance de reverter um processo que já traz danos gigantescos à população mundial no presente e promete ser muito mais grave no futuro. Por enquanto, a COP 21 está lembrando em tudo as dezenas conferências de climáticas que fracassaram nos últimos 25 anos. “O que vemos no momento é o surgimento de todos os elementos que sempre estiveram dificultando acordos climáticos”, lamenta Suzana.

01.jpg

Fotos: REUTERS/Alessandro Bianchi; AP Photo/Thibault Camus