Um tiroteio a um centro de serviço social em San Bernardino, a cerca de 100 quilômetros de Los Angeles, na Califórnia, deixou os Estados Unidos em alerta na quarta-feira 2. Dois suspeitos chegaram ao Centro Regional Inland, às 11 horas da manhã, usando máscaras, armaduras e carregando rifles de assalto, pistolas semi-automáticas e explosivos. Pelo menos 14 pessoas morreram e 17 ficaram feridas no pior tiroteio em território americano desde o ataque à escola de Sandy Hook, em Newtown, no Estado de Connecticut, em 2012. Assim que os suspeitos deixaram o local do crime num carro SUV, a polícia começou uma caçada que paralisou a cidade de 200 mil habitantes e terminou na morte do casal identificado como Syed Rizwan Farook, de 28 anos, e Tashfeen Malik, de 27. As bombas foram desmontadas pela polícia. Até a noite da quinta-feira 3, os motivos do ataque não haviam sido esclarecidos e o FBI investigava o episódio como um possível caso de terrorismo. Na casa de Farook e Tashfeen foi encontrado um estoque de explosivos, munições e bombas caseiras. “Claramente eles estavam equipados e poderiam ter realizado outro ataque”, disse Jarrod Burguan, chefe da polícia local. “Nós os pegamos antes que isso acontecesse.”

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TRAGÉDIA
Policiais socorrem as vítimas do tiroteio: foram pelo menos 14 mortos no pior ataque
nos EUA em três anos. Abaixo, as buscas por evidências no local

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Pai de um bebê de seis meses, Farook trabalhava como inspetor ambiental para o departamento de saúde do condado há cinco anos e, na mesma manhã do ataque, tinha participado de uma festa com colegas do centro de reabilitação para deficientes físicos de Inland. Segundo testemunhas, ele deixou o evento com raiva depois de uma discussão. Quando voltou, estava fortemente armado e acompanhado da mulher, Tashfeen, numa ação aparentemente premeditada. Ao jornal New York Daily News, o pai de Farook disse que ele era um muçulmano “muito religioso”. O casal havia se conhecido num site de namoros. Nascido nos Estados Unidos, Farook viajou para o Oriente Médio ao menos duas vezes para visitar a família de Tashfeen, que, apesar de paquistanesa, vivia na Arábia Saudita. Em julho, a mulher havia recebido um “green card” condicional, uma permissão de residência válida por dois anos. Os investigadores estudam se, durante as viagens, o casal teve contato com alguma célula terrorista ou grupo radical. O Estado Islâmico, responsável pelo atentado a Paris em 13 de novembro, comemorou o massacre nas redes sociais, mas não assumiu a autoria.

Ainda que o inquérito conclua que os suspeitos tenham alguma relação com o terrorismo, tiroteios em massa já são parte da rotina americana. Só neste ano foram 353 com ao menos 4 vítimas, 5% a mais que em 2014. Mesmo assim, o controle de armas é tema caro aos americanos, porque a Segunda Emenda à Constituição garante o direito de porte aos cidadãos desde o século 18. Em entrevista à rede de tevê CBS, o presidente Barack Obama voltou a pedir mudanças na regulação de venda e porte de armas nos Estados Unidos. “Para aqueles preocupados com terrorismo, alguns devem se lembrar que temos uma lista que impede algumas pessoas de viajar de avião”, disse. “Mas essas mesmas pessoas que não deixamos voar podem ir a uma loja nos Estados Unidos agora, comprar uma arma de fogo e não há nada que possamos fazer para impedi-las.” As autoridades confirmaram que pelo menos quatro armas utilizadas no ataque da semana passada foram obtidas legalmente, apesar de a Califórnia ser um dos Estados que mais restringem esse direito.

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Fotos: KNBC via AP; Doug Saunders/Los Angeles News Group via AP