No intrincado e caótico tabuleiro geopolítico do Oriente Médio, os ataques terroristas que deixaram 129 pessoas mortas em Paris moveram peças importantes. Ainda que de forma indireta, os maiores beneficiados dos seis atentados coordenados pelo Estado Islâmico na capital francesa foram o presidente russo Vladimir Putin e o presidente sírio Bashar Al Assad. Aliado histórico dos russos na região, Assad vem resistindo aos ataques do Estado Islâmico, da Al Qaeda e de uma miríade de grupos rebeldes patrocinados pelos Estados Unidos, pela Turquia e pelos países do Golfo graças ao apoio que Putin.

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CONVERSA
Putin e Obama se encontraram na Turquia durante encontro do G20

Ao longo dos últimos cinco anos a Rússia abasteceu o governo sírio com armas, munições e apoio tático. Em setembro, quando as forças de Assad sofreram duras perdas na região de Latakia e seu governo parecia a um passo do abismo, Putin decidiu que era o momento de agir diretamente. Enviou aviões, tropas e armamento pesado e iniciou uma intervenção direta na guerra síria. Bombardeou não só o Estado Islâmico, mas principalmente grupos rebeldes que querem derrubar Assad e são apoiados pelos americanos e sauditas, elevando ainda mais as tensões com os Estados Unidos. Obama criticou de forma incisiva o presidente russo, que por sua vez deixou claro que não permitiria que Assad fosse tirado do poder à força.

Até a sexta-feira 13, as preocupações de Estados Unidos, Rússia e os países aliados a essas duas super potências pareciam muito mais ligadas ao destino do presidente sírio do que com o Estado islâmico. Com os atentados de Paris e a decisão do presidente da França, François Hollande, declarar guerra ao EI e anunciar uma aliança com a Rússia, tudo mudou. As críticas ao presidente russo desapareceram no cenário internacional e poucos são os países hoje que acham ser fundamental discutir se Assad fica ou não no poder. O alvo, agora, é o EI.

Putin se viu tão fortalecido nos dias seguintes aos ataques a Paris que decidiu abandonar a tese de que a queda do avião da companhia Metrojet teria sido um acidente. Pela primeira vez o presidente russo admitiu que o avião que levava 224 cidadãos russos fora vítima de um atentado terrorista.

Holande também saiu, de certa forma, fortalecido após os atentados. Na eterna disputa pela hegemonia européia com a Alemanha o presidente francês se colocou como líder global de peso ao convocar a comunidade internacional a se unir contra os fanáticos que dominam boa parte do Iraque e da Síria. Sua vitória maior será convencer Obama a unir esforços aos russos. Transformar antigos rivais em aliados será um trunfo difícil de ser esquecido.

Foto: Cem Oksuz/Anadolu Agency via AP, Pool