A diferença é notável. Há 20 anos, as pipocas vendidas no cinema vinham acondicionadas em pequenos saquinhos de papel e continham cerca de 270 calorias por porção. Hoje são servidas em copos de papel cartonado que mais parecem baldes e seu valor energético pode ultrapassar 630 calorias. O que houve? O óbvio: as porções dos alimentos aumentaram muito de tamanho nas últimas duas décadas. E alguns trabalhos científicos já estão mensurando o impacto do problema. A mais recente pesquisa foi realizada na Universidade Rutger, nos Estados Unidos, e publicada na revista da Associação Dietética Americana.

O estudo contou com a participação de 177 adultos jovens. Eles foram convidados a fazer três refeições (café da manhã, lanche e jantar) com direito a comer as porções atualmente consideradas normais. O resultado foi comparado ao volume registrado 20 anos antes por um trabalho que seguiu os mesmos critérios científicos. A conclusão foi que não só as porções cresceram como as novas medidas foram assimiladas como realmente sendo normais. As comidas com as mais dramáticas diferenças de tamanho foram aquelas servidas em xícaras, copos e tigelas. Uma porção de suco de laranja, por exemplo, hoje é 40% maior do que há 20 anos. Em termos nutricionais, isso significa 50 calorias a mais, somando cerca de dois quilos extras ao longo de um ano.

Os participantes do estudo também serviram a si mesmos perto de 20% a mais de sucrilhos e colocaram uma quantidade aproximadamente 30% maior de leite no cereal do que os participantes do estudo de 20 anos atrás. “Com as porções distorcidas nesse grau, não é surpresa que o peso e conseqüentemente a obesidade em todo o mundo estejam aumentando tanto”, afirma Carol Byrd-Bredbenner, co-autora do trabalho.

De fato, trata-se de um problema sério. Até porque, em geral, as pessoas não têm noção do quanto estão comendo a mais. É uma espécie de armadilha oculta que só faz aumentar a epidemia de obesidade mundo afora. “A maioria dos indivíduos não presta atenção nisso. É uma falta de conhecimento que dificulta o controle do peso”, alerta a nutricionista Cynthia Antonaccio, da Equilibrium Consultoria em Nutrição e Bem-Estar, de São Paulo.

É a mesma posição defendida pelo cientista americano Brian Wansink, diretor do Centro de Pesquisa em Alimentos e Bebidas da Universidade Cornell (EUA). Considerado um dos maiores especialistas no assunto, ele está prestes a lançar seu novo livro, cuja chamada é justamente “Por que comemos mais do que pensamos”. Wansink acredita que outro problema é o atrativo financeiro oferecido atualmente pelos restaurantes e cadeias de fast-food. Segundo ele, o consumidor fica confuso diante da constatação de que hoje muitas das porções menores custam mais do que as maiores. Na dúvida, acaba prevalecendo um certo instinto de vantagem que faz o cliente levar a maior, pelo menor preço.

Mas há outros aspectos. A convivência com os pacientes fez com que a
nutricionista Cynthia, por exemplo, observasse que a tendência do aumento
do consumo estende-se aos alimentos classificados por ela como “indulgentes”.
Ou seja, aqueles que são especialmente direcionados ao prazer. São os
belos pratos servidos em restaurantes, por exemplo, que na maioria dos casos também tiveram seu volume aumentado. Além disso, segundo a especialista, o consumidor vem sendo bombardeado por apelos inacreditáveis que fomentam o consumo de porções maiores do que se deve. “Nos Estados Unidos, muitas empresas investem no chamado all you can eat buffet”, conta. Ela se refere aos estabelecimentos que tentam atrair os clientes com promoções do tipo coma tudo o que conseguir a baixo preço.

A questão está motivando uma cruzada contra as grandes porções, especialmente nos Estados Unidos, onde mais de 60 milhões de pessoas são obesas. Para ajudar a sensibilizar a população, muitos estudos têm sido feitos também para tentar mostrar o quanto se perde em saúde e em dinheiro. Um dos mais interessantes foi divulgado na edição de junho da revista do Colégio Americano de Nutrição. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) fizeram várias comparações para descobrir quanto as calorias a mais ganhas com as grandes porções se revertiam em gastos com a saúde, debilitada pela alta ingestão de calorias e até com o combustível usado para que o indivíduo procurasse os serviços médicos.

Os cientistas chegaram à conclusão de que para cada 67 centavos de dólar dispendidos na compra de pratos volumosos, o gasto total posterior chegava a US$ 7 no caso dos homens e a US$ 4,5 para as mulheres. É um alerta e tanto para fazer com que as pessoas comecem a ouvir o estômago, não os olhos, na hora de escolher o que comer, e mais do que isso, quanto comer.