Dois políticos de perfil moderado, a ex-senadora Marina Silva e o prefeito Fernando Haddad, fizeram ponderações importantes nos últimos dias. Marina afirmou que a saída para a crise passa pelo diálogo entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Haddad foi além e apontou o risco de que a desordem política faça emergir uma nova era de obscurantismo.

Comecemos por Marina. Seu ponto principal, já levantado na última disputa presidencial, é o altíssimo custo que a polarização PT-PSDB tem feito ao País. Ela também colocou uma questão interessante. “Se FHC dialogou com ACM e Lula com Sarney, por que não podem conversar entre eles?” Basicamente, porque ambos vêm disputando a hegemonia política no País há mais de vinte anos.

Ocorre que o Brasil vive agora um esgotamento do modelo político da Nova República. E ainda que o PT tenha sido mais afetado por escândalos do que o PSDB, os dois partidos agem de forma muito parecida quando se relacionam com empresários e financiam suas campanhas políticas. Enquanto não houver diálogo franco, com reconhecimento dos erros de parte a parte, o Brasil estará condenado ou à eterna guerra política ou à hipocrisia.

Quem pode se favorecer desse embate permanente são os aventureiros ou salvadores da pátria. E então chegamos a Haddad, que disse enxergar riscos de desordem política no Brasil. “Eu não dou de barato que forças obscurantistas e aventureiras tomem a cena. Mas esta hipótese está colocada”, afirmou.

Não por acaso, em São Paulo, dois candidatos de perfil justiceiro, os apresentadores Celso Russomano e José Luiz Datena, possuem quase 50% das intenções de voto para a prefeitura, em 2016. Ou seja: se a maior metrópole do País for um laboratório em escala menor da situação nacional, tanto PT como PSDB podem ser tragados pela crise, abrindo espaço para uma nova ordem ainda desconhecida. E que pode, como diz Haddad, ser obscura.