Mais de 70% do déficit habitacional brasileiro de quase seis milhões de moradias está na população urbana e de baixa renda, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). A demanda por essa linha habitacional deve alcançar 20 milhões de unidades até 2024. Foi de olho nesses números que, em 2008, o franco-americano Yannick Rault fundou, ao lado ao lado do sócio brasileiro Aristides Bertuol Netto, o grupo Abramar. O foco em habitações populares inclui unidades financiadas pelo programa ‘Minha Casa Minha Vida’, do governo federal. Mas o DNA europeu da companhia acabou por dar um diferencial para os empreendimentos da construtora, que fez da sustentabilidade o padrão dos seus projetos e neutralizou 17 mil toneladas de CO2 emitidos por seu primeiro empreendimento no país por meios de ações de compensação.

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NOVO CONCEITO
A ideia da Abramar é criar eco-bairros

Com sede em Balneário Camboriú (SC), a Abramar se declara a primeira empresa a explorar o conceito de Urbanismo Social no Brasil. E é na cidade catarinense de Camboriú que o grupo exibe sua vitrine, o condomínio Colina do Cedro, de 11.000 m2 e 302 unidades, entre casas e apartamentos, muitas com vista para o mar. Além de 78 mil m² de áreas verdes como ação compensatória, as unidades do Colina do Cedro foram pensadas para aproveitar as condições do terreno em favor do meio ambiente e de qualidade de vida. Assim, em comparação com outras construções similares, as residências consomem 54% menos energia ao otimizar a circulação cruzada de ar, reduzindo a necessidade de refrigeração do ambiente, ou seja, menos ar condicionado, o que inclui calcular a distância entre as torres e casas e a incidência de sol em diferentes horários do dia. “Sustentabilidade depende de tecnologia, que custa caro, e a população de baixa renda não pode pagar por ela. Pensamos no impacto social e ambiental de nossos projetos de uma maneira mais abrangente do que um arquiteto convencional pensaria”, explica Rault.

O executivo aponta que o erro mais comum ao pensar em sustentabilidade no mercado imobiliário está em associá-la aos materiais de construção. Não que eles não devam ser considerados, mas segundo Yannick, essa fase responde por algo entre 5% e 10% das emissões de CO2, e que, em longo prazo, as ações de deslocamento e o consumo de energia respondem por mais de 30% das emissões em uma área residencial.

A ideia é que nos próximos empreendimentos, as construções formem eco-bairros, onde convivam diferentes classes sociais, que podem ir de C- a B+, e com a maior diversidade populacional possível. “O meu plano era criar condomínios abertos e de livre circulação, mas por uma questão cultural brasileira, tivemos que isolar o projeto com muros”, lamenta Yannick.

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E já que os deslocamentos pesam no meio ambiente, os projetos devem estar necessariamente próximos a comércios e serviços como mercado, padaria, farmácia, e abrigam piscina, quadras esportivas e academia de ginástica. “As construções nos bairros mais pobres não inspiram conforto ou qualidade de vida, além de se localizarem fora da área central, e pensamos em como melhorar isso, sem perder os benefícios ambientais”.

Batizados de ‘MoonScrapers’ – pois se empilhadas, o total de unidades previstas para zerar o déficit habitacional no mundo alcançariam a lua – a empresa possui outros 12 empreendimentos com esse perfil em fase de planejamento ou incorporação, não só em Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul e no Paraná.