A crise de 2015 no Brasil foi a prova de fogo. No fim do ano em que o País atravessa o momento de instabilidade política e econômica mais sério da década, ser consciente na crise soa como um dos 12 trabalhos de Hércules. Roberto Lima, presidente da Natura, resume o desafio: “A crise é um teste real do nosso compromisso com a sustentabilidade”. A Natura foi a campeã da edição 2015 do prêmio “As empresas mais conscientes do Brasil”, promovido por ISTOÉ. A empresa ganhou em quatro dos cinco critérios estabelecidos, na categoria grandes empresas: ranking geral, governança, meio ambiente e comunidades. “Receber o prêmio de Empresa mais Consciente de 2015 é uma enorme satisfação para a Natura”, diz Lima. “Atravessar períodos de turbulências fortalece as bases desse compromisso. A crise é passageira, mas a agenda do desenvolvimento sustentável é uma construção permanente. É o momento de aprofundar nosso posicionamento e refletir sobre os aspectos essenciais do nosso modelo.”

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Roberto Lima, presidente da Natura

"A crise é o teste real do nosso compromisso com a sustentabilidade",
diz presidente da Natura. Leia a entrevista completa

Há 30 anos, a Natura faz negócios de forma consciente, respeitando os valores de sustentabilidade e meio ambiente. No ano passado, foi a primeira grande empresa no Brasil, com capital aberto, a receber o Certificado B Corp, importante certificação do Sistema B Lab. “Com a certificação, buscamos reforçar um movimento global de companhias que prezam pela integração do resultado financeiro à geração de resultado socioambiental”, diz Lima.

No livro “Lições de um Empresário Rebelde” (Editora Rocky Mountain), as palavras do autor Ivon Chouinard, fundador da marca Patagônia e um dos pais do capitalismo consciente, fazem sentido para Roberto Lima. “As empresas podem fazer coisas boas e lucrar sem vender suas almas”, diz o guru do capitalismo consciente. Para Lima, a Natura compartilha deste conceito. Ele diz que a ambição de crescer, ampliar lucros e gerar valor para os acionistas, “deve ser exercida de maneira virtuosa, criando riqueza para a sociedade”. O princípio fundamenta a visão de sustentabilidade da empresa, que faturou R$ 7,4 bilhões no ano passado. A visão da Natura reúne diretrizes e estratégias para a construção de impactos positivos até 2050. “Vemos um crescente despertar para a urgência das questões socioambientais. Somos parte do movimento”, diz. “Nosso modelo de negócios mostra que é possível conciliar lucro com geração de valor para a sociedade.”

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A visão de sustentabilidade da Natura reúne diretrizes para
construir impactos positivos para a sociedade até 2050

A Natura foi pioneira no uso de refis nos anos 1980, e nos anos 1990. Lançou a linha de produtos “Crer para Ver”, comercializada com fim exclusivo de investimentos em educação. A empresa apoiou a formação do Instituto Ethos, entidade essencial para o fortalecimento da responsabilidade social corporativa no Brasil. Em 2000, o grupo avançou no uso sustentável de produtos e serviços da sociobiodiversidade brasileira ao lançar a linha Ekos. Foi desenvolvido, na época, um modelo de negócios inédito até então, com impacto socioeconômico aliado à preservação ambiental, com repartição de benefícios entre comunidades agroextrativistas da Amazônia. Em 2011, veio o Programa Amazônia, com o compromisso de contribuir com a região, para o desenvolvimento de seu potencial sociobiodiverso e geração de negócios sustentáveis.

“Evoluímos ainda para uma estratégia de vegetalização de nossas formulações, substituindo uma série de insumos de origem não renovável em nossas fórmulas”, lembra o presidente da empresa. Atualmente, o índice de vegetalização dos produtos Natura é de 82%. Desde dezembro de 2006, a Natura não realiza testes em animais durante o desenvolvimento dos produtos ou de matérias-primas.

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Em 2014, foi lançada uma nova Visão de Sustentabilidade, que direciona negócios para a geração de impacto positivo social, ambiental, econômico e cultural até 2050, com metas e compromissos para 2020.  “A própria empresa é o principal fruto colhido desses sólidos valores construídos nas últimas décadas”, reforça Lima.

Ser uma empresa consciente, hoje, é ter a certeza de não estar só, enfatiza o presidente da Natura. Para garantir a prática além do discurso, contudo, as dificuldades não são poucas. “É necessário construir uma moldura institucional ampla para apoiar as empresas que busquem construir suas atividades nesse rumo”, lembra o executivo. O Brasil poderia estar mais à frente do processo, com incentivos às empresas conscientes e menos carga tributária.Um exemplo do esforço da empresa em seu compromisso ambiental é o do “Programa Carbono Neutro”. De 2007 a 2013 foi reduzida de 4,18 kg para 2,79 kg a emissão de Gazes de Efeito Estufa (GEE) para cada quilo de produto faturado. Isso significa uma redução de 33,2% nas emissões relativas (GEE), meta batida após o compromisso firmado em 2007 para reduzir impacto do grupo em mudanças climáticas. A Natura se prepara agora para reduzir, até 2020, outros 33%. Para reafirmar, com um exemplo prático, a razão de ser de uma empresa consciente, Roberto Lima cita, “com orgulho”, a nova linha de cuidados para o corpo, Ekos Ucuuba, produto com poder de hidratação. “O destino natural da ucuubeira era ser cortada para virar cabo de vassoura. Cada árvore era vendida por R$ 15 reais após derrubada”, conta ele. “Hoje, com os frutos comprados pela Natura, isso gera o equivalente R$ 60 reais por ano para as famílias, que passaram a manter as árvores existentes, e plantar novas mudas. É uma conta que faz sentido para toda a sociedade.” Faz sentido, com consciência.

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FOTOS: JUAN ESTEVES; DIVULGAÇÃO