Se existisse um ranking mundial de governantes que ficaram menos tempo no poder, o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, seria um dos campeões de brevidade. Apenas 12 dias depois de tomar posse, Coelho teve seu nome rejeitado pelo Parlamento do país. Por mais absurda que possa parecer, a queda já era esperada. Como está de acordo com a legislação portuguesa, também não pode ser chamada de golpe. Embora a aliança de centro-direita tenha vencido as eleições para o Executivo, a bancada de esquerda obteve maioria parlamentar. Liderada pelo socialista António Costa, a oposição se uniu para aprovar uma moção de censura ao governo, o que provocou sua imediata interrupção. Os deputados rejeitaram o novo governo de Passos Coelho por 123 votos a 107. Costa, porém, ainda não pode assumir o posto de premiê. Nos próximos dias, o presidente português Anibal Cavaco Silva, chefe de Estado que não tem poder executivo, irá consultar os partidos políticos para definir se Costa assumirá o comando ou se nomeará um governo interino. Até a sexta-feira 13, a situação estava indefinida e Portugal vivia um clima de instabilidade que levou certa preocupação à Europa.

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NAS SOMBRAS
O premiê português Pedro Passos Coelho: sua queda leva a
um clima de instabilidade que preocupa toda a Europa

A perspectiva de um governo de esquerda apoiado por comunistas incomoda muita gente. A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, disse que há o risco de Portugal não cumprir os compromissos firmados com a União Europeia. Entre eles, cortar o déficit orçamentário. “Não precisamos imaginar as consequências”, disse Maria Luís. “Basta olhar para a experiência recente da Grécia e o custo de suas tentativas de terminar com a austeridade. Isso levou a mais recessão, mais pobreza, mais falta de empregos e maior dependência de empréstimos europeus e do FMI.” Por ora, os socialistas negam o desejo de romper os acordos com a União Europeia, mas é impossível cravar as suas reais intenções. Depois de um longo período de declínio econômico, Portugal começou, enfim, a revigorar a sua economia. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o PIB do país deverá crescer 1,7% em 2015, um feito notável para quem até estava, até pouco tempo atrás, mergulhado em uma profunda recessão.

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INDEFINIÇÃO
O secretário-geral do Partido Socialista, António Costa:
ele não sabe se vai assumir o governo

Fotos: PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP PHOTO; ESTELA SILVA/LUSA