Fabricante de máquinas para picolé e sorvete artesanal, a Finamac foi fundada em São Paulo em 1985. Em 2006, começou a exportar depois de receber consultas na internet de empresas estrangeiras interessadas em comprar seus equipamentos. Em 2012, ocupou em Miami um pequeno escritório da Apex-Brasil, agência brasileira de estímulo às exportações. Em 2015, abriu um galpão próprio, também em Miami, para iniciar o processo de fabricação das máquinas. Em 2016, os equipamentos estarão disponíveis para venda. Com relativa presença no mercado internacional, a Finamac decidiu fugir da crise no Brasil. Com as vendas estáveis no País, a empresa vai expandir fronteiras. Atualmente, 50% do faturamento vêm do exterior, mas o número deverá crescer daqui por diante. “É muito difícil sobreviver com tanta oscilação no Brasil”, diz Marino Arpino, diretor da Finamac. “A saída é a internacionalização.” A Finamac é uma entre inúmeras empresas brasileiras que estão buscando uma alternativa econômica no cenário internacional. Segundo um estudo realizado recentemente pela Fundação Dom Cabral (FDC), no período de um ano a internacionalização de empresas brasileiras cresceu 7%, a maior alta em muito tempo. “Quando nós temos uma situação em que a economia doméstica não está favorável, o índice médio de empresas se internacionalizando tende a aumentar”, diz o professor Sherban Leonardo Cretoiu, um dos idealizadores do estudo da FDC. “Se o mercado brasileiro está ruim, por que não investir nos países em que a economia está crescendo?”

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NOVOS RUMOS
Marino Arpino, da Finamac: ‘Com a oscilação no Brasil,
a saída é a internacionalização’

A combinação de inflação alta, real desvalorizado e consequente perda de poder de compra do consumidor tem feito com que muitas empresas se vejam obrigadas a diminuir o quadro de funcionários e a fazer malabarismos para manter as portas abertas. Da mesma forma que está mais barato investir no Brasil, o patrimônio que a empresa tem no exterior aumenta de valor quando a moeda forte é convertida para o real. É assim que muitas empresas brasileiras estão operando. Atualmente, 210 companhias nacionais têm atuação consolidada (com unidades próprias) no exterior, de acordo com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). Em 2010, apenas 95 possuíam unidades fora do País. A Apex-Brasil, que auxilia empresas brasileiras na internacionalização, também percebeu esse crescimento. No ano passado, a agência atendeu 128 empresas interessadas em desbravar o mercado internacional. Em 2015, foram 200.

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AMBIÇÃO
Rafael Lourenço, da Clear Sale: a empresa quer 4% do mercado americano

Empresas de todos os tamanhos têm buscado saídas fora do Brasil. É o caso da Clear Sale, companhia de média porte que produz softwares que combatem fraudes no e-commerce, e da Sapeka Lingerie, fabricante de roupas íntimas. A Clear Sale é líder no mercado brasileiro, com 85% de participação nos negócios, e busca alcançar 4% do mercado americano, que é 22 vezes maior que o brasileiro. Se chegar a essa fatia, ela repetirá nos Estados Unidos seu desempenho no Brasil. No ano passado, a Clear Sale abriu uma unidade própria em Miami, levando os melhores funcionários para lá. “Fizemos isso porque o poder de compra do brasileiro diminui”, diz Rafael Lourenço, responsável pelo projeto de internacionalização da empresa. A Sapeka Lingerie optou por abrir, em julho, um centro de distribuição de 350m² em Angola. A Sapeka vendia peças para distribuidoras locais, mas resolveu efetivar a internacionalização da marca. Segundo Wesley Loureiro, diretor comercial, a facilidade da língua – e a curiosidade pelos produtos brasileiros – foram fundamentais na escolha do país. “Há uma identificação muito grande dos africanos com os brasileiros”, diz. Atualmente, 13% do faturamento da empresa vem do exterior. A julgar pelos prognósticos negativos a respeito da economia brasileira, é de se imaginar que novos projetos de internacionalização devem sair do papel nos próximos meses.

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Fotos: Airam Abel, Divulgação