Na terça-feira 17, o PMDB realiza em Brasília o congresso da Fundação Ulysses Guimarães, que reunirá integrantes da cúpula do partido, parlamentares e dirigentes regionais. Os debates devem colocar seus participantes em trincheiras opostas: a dos que se opõem e a dos defensores do rompimento com o governo federal. O evento funcionará como uma espécie de “esquenta” para a Convenção Nacional prevista para março, quando oficialmente o destino da aliança do PMDB com o governo estará em jogo. Como o impeachment perdeu fôlego, ao menos neste ano, os peemedebistas que já estiveram bem mais próximos do litígio com Dilma tendem a abrandar o tom em relação ao fim da parceria – salvo as alas mais radicais da legenda. Mesmo assim, a ideia é manter o governo sob pressão. Por isso, além deixar claro as diferenças em relação ao Planalto, o PMDB pretende aproveitar o congresso para apresentar seu programa para as disputas das eleições municipais de 2016 e presidenciais de 2018. Ao mesmo tempo, o maior partido da base governista irá insinuar que, sim, está pronto para assumir o País, caso seja necessário.

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Oficialmente, estão na pauta desta semana apenas debates sobre a atualização do estatuto da legenda e o texto “Uma Ponte para o Futuro”, lançado no fim de outubro, com propostas que têm a intenção de “tirar o Brasil da crise”. Mas não haverá qualquer tentativa de blindagem: os microfones estarão abertos a quem quiser marcar posição e, se for o caso, constranger o governo. O deputado Lúcio Vieira Lima (BA), apoiado por parlamentares das bancadas gaúcha e catarinense, pretende aproveitar o congresso para bradar contra a submissão do partido às determinações do governo Dilma em troca de cargos públicos. “O PMDB estava indo muito bem. Estávamos dialogando com as ruas e, de repente, se deu um cavalo de pau de 180 graus. Não dá para o PMDB propor ao governo cortar ministérios e depois passar a ocupar não seis, mas sete pastas. Esses ministros que estão aí se apegam aos cargos. Eles deixam de ser ministros do PMDB e passam a ser ministro de Dilma”, declarou.

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A mesa de discussões será coordenada pelo senador Romero Jucá. Em pronunciamento, o parlamentar deve defender que o PMDB consiga entoar um discurso próprio para se reconectar com a militância e não atuar apenas como um satélite de outro partido. “Devemos recuperar e estabelecer bandeiras nacionais e regionais para que possamos resolver a crise de representatividade. Acabou o ‘enrolation’. Precisamos alimentar a militância e aproveitar nossa capilaridade”, antecipou. A estratégia de Jucá e que será repetida por outros peemedebistas considerados levemente moderados, como o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, é a de preparar um descolamento ideológico e um distanciamento político da impopular gestão petista.