Peemedebista ligado a Temer diz que o Brasil está sem comando e que o governo não consultou o PMDB antes de tomar as medidas responsáveis pela crise atual

Atualmente um dos políticos mais próximos do vice Michel Temer, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, concluiu na semana passada a redação do documento “Uma Ponte para o Futuro”, em que propõe medidas para tirar o Brasil da crise. O texto que será discutido no congresso nacional da legenda, no próximo dia 17, gerou polêmica por conter duras críticas ao governo no momento em que setores do PMDB defendem o rompimento com o Palácio do Planalto.

 

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VOO SOLO
Para Moreira Franco, ter candidato à Presidência em 2018 é fácil. Difícil é ter candidatura.

 

A contundência do material deu margem à seguinte elucubração no meio político: seria o documento um clássico programa de governo, com vistas à disputa presidencial em 2018, ou um conjunto de propostas para serem implementadas já, em caso de impeachment de Dilma, cujo grande beneficiário seria o vice Michel Temer? Em entrevista à ISTOÉ, Moreira Franco negou que haja uma conspiração em curso contra Dilma. “Não existe conspiração em ‘on’ só em ‘off’. E nós só falamos em ‘on’ ”, afirmou ele.

 

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"Vão dizer que eu estou querendo cantar a música do Roberto Carlos ´Esse cara
sou eu´ ou, no caso, ´esse cara é ele´ (Temer). Não é o nosso objetivo."

 

Segundo ele, “quem tem patrocinado este debate (do impeachment) é a Presidência da República”. “Porque a primeira pessoa a falar sobre impeachment quando estava na Rússia foi a presidente”, lembrou. O PMDB, acrescenta ele, apenas formulou propostas “urgentes” para o País. “Essa letargia já foi longe demais”, lamentou. Para o peemedebista, o timão (leme) está solto. “Ninguém tem o timão firme (…) e sem um comando firme, não há possibilidade de avançarmos”.  

 

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"Precisamos deixar que as investigações andem, cheguem a consequências,
mas temos que ter uma proposta para tirar o Brasil da crise"

 

ISTOÉ

 O documento “Uma Ponte para o Futuro”, que diz que o governo “cometeu excessos”, representa a opinião de quem? Da cúpula do PMDB?

MOREIRA FRANCO

 Espero que represente a opinião da sociedade. Queremos unir. O documento foi feito ouvindo muita gente dentro e fora do partido. Está sendo amplamente distribuído entre os diretórios e estamos estimulando o debate. No dia 17, quando as pessoas se encontrarem no congresso, vão expressar seus pontos de vista.

ISTOÉ

 Representa a opinião do presidente do partido e vice-presidente da República, Michel Temer?

MOREIRA FRANCO

 Para nós, é mais importante representar o partido, não vou “fulanizar”. Você está com o vício da “fulanização”. É claro que vai representar. Não só a dele como a minha também.

ISTOÉ

 É um documento bastante crítico à atual situação do Brasil. Isso cria mais arestas entre o PT e o PMDB, já que o seu partido é acusado de não ser tão aliado quanto o PT gostaria?

MOREIRA FRANCO

 Olha aqui, o PMDB acha que o PT não é tão aliado como deveria ser. Mas o problema principal para este quadro que estamos vivendo é termos um caminho e formarmos uma maioria em torno dele. Essa discussão não é para agradar nem desagradar quem quer que seja. É para nós cumprirmos o papel que o PMDB sempre cumpriu, de apresentar uma alternativa. Evidentemente, não agrada a todo mundo, mas se consolida como um esforço político de atender uma maioria. 

ISTOÉ

 Por ser tão crítico, não parece um documento de quem está na oposição?

MOREIRA FRANCO

 Ah, se a oposição tivesse tido essa manifestação, talvez as coisas estivessem melhores.

 
ISTOÉ

 E o que está fazendo a oposição?

MOREIRA FRANCO

 Pergunte ao governo. Quem sabe da oposição é o governo. Hoje, o PMDB está preocupado com a nação, com a sociedade. Não se pode continuar assim, temos que ter o sentido da urgência. Essa letargia já foi longe demais.

 
ISTOÉ

 O que o significa “esta letargia já foi longe demais”?

MOREIRA FRANCO

 Que não dá mais para continuar do jeito que está. Veja as declarações de economistas, empresários. O Abílio Diniz disse que o Bra­sil está em liquidação. E é uma verdade. Temos urgência.

ISTOÉ

 A presidente Dilma Rousseff tem força política para fazer isso?

MOREIRA FRANCO

 Agora é a hora de firmar o leme. E no Brasil de hoje, o timão está solto, ninguém tem o timão firme. O esforço que o PMDB faz com esta proposta é exatamente o de convocar, de tentar reunificar o País, que está muito dividido. Sem um comando firme, não há possibilidade de avançarmos. Então, o momento que nós estamos vivendo é o de criar as condições para segurar este timão e levar o País para frente.

 
ISTOÉ

 O vice-presidente, Michel Temer, teria pulso firme o suficiente?

MOREIRA FRANCO

 Eu só não respondo a esta pergunta, porque ela vai ser mal interpretada, vão dizer que eu estou querendo cantar a música do Roberto Carlos. E não é o nosso objetivo.

ISTOÉ

 Qual música do Roberto Carlos?

MOREIRA FRANCO

 “Esse Cara Sou Eu” (risos). Ou, no caso, “esse cara é ele”. Já houve uma escorregada em casca de banana nesta área, não terá outra, porque nosso objetivo é ter uma ponte para o futuro, definindo uma política para tirar o Brasil da crise.

ISTOÉ

 Essa discussão não pode levar a interpretações de que o PMDB quer se colocar como o partido capaz de reunificar o Brasil?

MOREIRA FRANCO

 Não, não mudou nada. Temos compromisso com o Brasil. Vamos apresentar nossas propostas sem nenhum sentido de provocação. 

ISTOÉ

 O PMDB está no comando da vice-presidência da República há cinco anos e de lá para cá vem ocupando vários ministérios do governo. O seu partido não tem responsabilidade pela crise pela qual o País passa?

MOREIRA FRANCO

 A crise decorre de medidas de natureza de política econômica que foram tomadas.  Nós nunca participamos dessa. Nunca fomos nem chamados nem ouvidos. Tanto em 2010 quanto agora, apresentamos propostas de políticas econômicas que não foram consideradas. Muitas delas estão neste documento.

 
ISTOÉ

 E por que não foram consideradas?

MOREIRA FRANCO

 Não pergunte a mim, pergunte a quem não as considerou. Sobre a questão de haver “conspiração”, eu acho isso extremamente curioso porque é como se fosse possível conspirar em “on”. Não existe conspiração em “on”, você só conspira em “off”.Tanto eu quanto o Michel Temer dizemos a todos os jornalistas que só falamos em “on”, nunca em “off”.

ISTOÉ

 Conspiração pode, eventualmente, se dar não com jornalistas, mas entre vocês, políticos.

MOREIRA FRANCO

 Tanto ele, quanto eu, quando falamos no jornal, falamos de política. Imprensa é uma ferramenta pela qual se faz política, que se alimenta dela e alimenta a política.

ISTOÉ

 Quando o vice, Michel Temer, estava à frente da articulação política do governo, surgiram rumores de que ele e o PMDB conspiravam para derrubar a presidente, Dilma Rousseff. A que o sr. atribuiu isso? Tentativa de enfraquecer o vice?

MOREIRA FRANCO

 Talvez. Mas isso passou. Da nossa parte, passou e sem mágoas. Chegou numa certa hora em que o Temer disse: “Chega, eu já cumpri minha parte, estou fora da articulação”. Ele constatou as dificuldades. Isso é água passada. Isso não nos motiva nenhum tipo de atitude ou de posicionamento. Enquanto achávamos que era possível, ninguém perseverou mais que o Michel Temer. Quando ele achou que não dava mais para continuar no comando da articulação política, pegou a trouxa dele e foi embora.

 
ISTOÉ

 Uma recomposição do governo com a base aliada ainda é possível?

MOREIRA FRANCO

 Tem políticos brasileiros de muito talento intelectual que fazem palestras e ganham muito dinheiro, como os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Se eu soubesse responder a essa pergunta certamente estaria na mesma faixa salarial que os dois.

 
ISTOÉ

 O sr. participou do governo. Quais as maiores dificuldades como ministro?

MOREIRA FRANCO

 Já fui prefeito, deputado federal, governador, ministro, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, presidente da Fundação Ulysses Guimarães. Tenho como regras não andar com tropa de ocupação e, quando eu saio, eu fecho a porta e parto para uma nova experiência. Toda minha reflexão é aqui na Fundação. Porque o povo brasileiro e o empreendedor brasileiro estão com a língua de fora.

 
ISTOÉ

 O ex-presidente Lula diz que ele e sua família estão sendo perseguidos. O sr. acha o mesmo em relação a integrantes do PMDB?

MOREIRA FRANCO

 Creio que a politização dessas investigações tem sido excessiva. Mas precisamos deixar que essas investigações andem, cheguem a consequências, como chegou o mensalão, mas temos que ter uma proposta para tirar o Brasil da crise. Se não, vai ser uma tristeza você ter milhões de brasileiros desempregados, sem perspectivas, com a fome batendo à porta, a violência crescendo e algumas pessoas na cadeia. É bom as pessoas estarem na cadeia para afirmar que nós não temos ambiente que não seja transparente, que os criminosos sejam punidos, mas com um País crescendo, gerando emprego, renda e com  pessoas cheias de esperança.

ISTOÉ

 Mas ele seria expulso?

MOREIRA FRANCO

 Nós não julgamos, as investigações são feitas pelos órgãos competentes e nós vamos esperar o resultado deste processo. Tanto para nós, quanto para todos os brasileiros.

 
ISTOÉ

 Se houver um processo de impeachment contra a presidente Dilma, qual será o posicionamento do PMDB?

MOREIRA FRANCO

 Impeachment é uma coisa muito séria e está sendo tratada de forma muito trivial. Quem tem patrocinado este debate é a Presidência da República. Porque a primeira pessoa a falar sobre impeachment quando estava na Rússia foi a presidente. E os ministros do Planalto, reiteradamente, falam disso. A única novidade foi a introdução do impeachment do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. A força bruta quer transformar como caminho para resolver a crise a questão de quem vai ser “impichado” primeiro. O governo faz as coisas para evitar seu impeachment, ou para estimular o impeachment do Eduardo Cunha. E dizem que ele faz o contrário. Eu prefiro discutir este documento, porque é ele que vai criar possibilidades de você ter um leme seguro.

ISTOÉ

 E a Agenda Brasil, ideia de seu colega de partido presidente do Senado, Renan Calheiros?

MOREIRA FRANCO

 Acho que foi uma ótima ideia.

 
ISTOÉ

 Não saiu do papel.

MOREIRA FRANCO

 Na política já é uma grande coisa você colocar no papel. E acho que quando está no papel e não acontece nada, isso gera dificuldades políticas. É claro que esse programa que estamos debatendo, se não gerar nada, vai ser um problema político. A expectativa nossa é que ele gere conseqüências. O Brasil precisa, tem urgência.

ISTOÉ

 Está na hora de o partido voltar a ter candidato próprio a presidente?

MOREIRA FRANCO

 Claro. Sempre falamos isso. Mas ter candidato é fácil. Difícil é ter candidatura. Com estrutura eleitoral que sustente uma campanha. Pressupõe máquina, programa, alianças. Não é só o candidato, mas um conjunto de ações políticas com conteúdo, representatividade, necessários para viabilizar o candidato.