Há alguns anos, ao lançar um ousado plano de abertura de novas agências, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, justificou o investimento com uma previsão entusiasmante. O Brasil, segundo ele, estava às portas de um momento econômico histórico, em que haveria 100 milhões de pessoas chegando à idade adulta com capacidade de trabalhar e consumir. Pela primeira vez, graças ao que chamou de “bônus demográfico”, o País teria uma força de trabalho em número superior à população que não gera renda, apontando para uma década de ouro ao desenvolvimento. Parte da profecia se realizou, mas a súbita mudança do cenário econômico frustrou toda uma geração que, como o executivo, acreditou que o período de bonança seria duradouro e transformador. Na perspectiva da atual crise econômica brasileira e seus efeitos sobre o mercado de trabalho, temos de encarar uma amarga realidade: administrar um gigantesco ônus demográfico.

Essa imensa massa de jovens em início de vida produtiva enfrentará um cenário desafiador como há muito não se via. A retração econômica dizima vagas em ritmo cada vez maior (1,2 milhão nos últimos doze meses) e, com isso, a taxa de desempregados, que no ano passado estava na casa de 6,8%, pode superar 12% em 2016. É um impacto brutal, sobretudo no aspecto social. E que não atinge apenas trabalhadores de menor qualificação, como em crises anteriores. Preocupadas em reduzir estruturas e custos, muitas empresas estão dispensando profissionais experientes, em posições mais altas e com salários melhores. Gente que investiu na carreira e construiu uma vida em torno de suas previsões de remuneração agora se vê sem perspectivas e forçada a abrir mão de conquistas. De repente, tudo o que estava no orçamento (carro, condomínio, escola das crianças, plano de saúde) vira pesadelo. O medo é a realidade, mesmo de quem está empregado. A pergunta da moda nos ambientes corporativos é: você tem um plano B?

A resposta mais frequente é um desolado não. Até porque para se chegar a um plano B é preciso tempo e reflexão, que, muitas vezes, leva a conclusões dolorosas. Uma delas, difícil de aceitar, é a de que vivemos o fim da era do emprego para ingressar na era do trabalho. Trata-se de um processo que vinha, lentamente, moldando as relações entre empresas e pessoas, amparado por interesses convergentes. Novas atividades e tecnologias encontraram uma geração com propósitos e interesses diferentes das anteriores e começaram a forjar um mundo com mais flexibilidade nos contratos entre as duas partes. A crise econômica jogou essa tendência na banguela, ladeira abaixo, sem que houvesse tempo para se rediscutir a legislação trabalhista ou para que os brasileiros, que foram programados durante décadas para pensar apenas em como arranjar um bom emprego e fazer carreira em uma única empresa, se acostumassem com a ideia de que, a partir de agora, é cada um por si.

Quem entender como se adaptar a esse novo cenário terá um caminho mais curto para a recolocação, não como funcionário, mas como trabalhador ou empreendedor. “Estamos vivendo uma mudança de paradigmas, em que as relações serão mais colaborativas, com base em projetos”, analisa Karin Parodi, CEO da Career Center, consultoria especializada em preparar executivos em busca de novas posições. A procura de um plano B em atividades diferentes da anterior é cada vez mais frequente entre seus clientes, numa outra demonstração de que as definições de carreira também estão em mutação. “O tempo em que se pensava onde, como e quando vou me aposentar já se foi”, diz Karin.

Há um outro fator demográfico a influenciar o cinzento cenário do mercado de trabalho. O aumento da expectativa de vida dos brasileiros amplia também a vida útil dos profissionais. Hoje, um trabalhador de 50 anos pode ter 30 de carreira e pensar em pelo menos outros 20 de atividade plena. Com experiência e conhecimento, é gente valiosa, no auge de sua produtividade. Se souber entender esse mundo novo, pode recomeçar. Construir uma segunda carreira será uma tendência dos próximos anos. Quem estiver em busca de um plano B deve ficar atento a ela.