Um mar de canaviais a perder de vista: assim podem ser definidas as plantações de cana-de-açúcar da Biosev, subsidiária da gigante francesa Louis Dreyfus Commodities para o setor sucroenergético no Brasil. São 340 mil hectares distribuídos em 11 unidades nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Paraíba. Desde que o grupo francês desembarcou no País no ano 2000, a lida no campo tem como foco aumentar a produção de açúcar, etanol e bioeletricidade para tornar rentável essa unidade de negócio. “Se tem algo no qual o Brasil é competitivo é no agronegócio”, diz o engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Rui Chammas, presidente da companhia desde o final de 2013. “O país é o maior exportador de açúcar e tem no etanol um exemplo de inovação do qual pode se orgulhar.” Na safra 2014/2015, encerrada no primeiro semestre, a receita da companhia foi de R$ 4,5 bilhões, uma expansão de 5,8% na comparação com o período anterior.

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Aproveitamento integral: após a moagem da cana-de-açúcar para a
produção de açúcar e etanol, o bagaço é direcionado para a usina termelétrica

As usinas da Biosev têm capacidade para moer anualmente 36,4 milhões de toneladas de cana. Na safra passada, foram processadas 28,3 milhões, transformadas em 1,6 milhão de toneladas de açúcar, a maior parte exportada para China e Rússia, além de países da União Europeia, África, Sudeste Asiático e do Oriente Médio; em 1,2 bilhão de litros de etanol; e em 896 GW/h (gigawatts hora) de bioeletricidade a partir da queima do bagaço. A empresa é a segunda maior geradora de energia renovável a partir da biomassa do Brasil. As vendas da eletricidade gerada nas usinas termelétricas cresceu 26% na safra 2014/15.

Em função dos investimentos e da gestão mais afinada, Chammas prevê uma moagem de até 32 milhões de toneladas para o período 2015/2016. “Tudo indica que teremos uma boa safra”, afirma o executivo. “Quem fez bem a lição de casa vai poder gerar resultados melhores ao longo dos próximos anos.”

O desafio do principal executivo da Biosev não tem sido pequeno e nem fácil. Nas últimas safras, apesar do faturamento robusto, a Biosev trabalha para sair da saia justa do prejuízo, resultado de um cenário adverso que, desde 2007, já levou ao fechamento de 80 usinas de cana-de-açúcar no Brasil e foi provocado por políticas públicas de valorização do uso do combustível fóssil em detrimento dos renováveis. Para isso, a arma da empresa tem sido investir. Na safra passada foram R$ 1,13 bilhão e, nos últimos três meses no primeiro trimestre da atual, R$ 226 milhões. “O mercado começa a reagir", afirma Chammas. “E nós saímos de uma geração negativa de caixa de R$ 200 milhões, o que aconteceu por dois anos, e chegamos a última safra com uma geração positiva de R$ 16 milhões.”

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À toda força: a Biosev é a segunda maior geradora de energia renovável a partir da biomassa no País

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Do total investido nessas duas safras, quase metade foi aplicado na área agrícola para renovar os canaviais com variedades de cana mais produtivas, na fertilização do solo e no controle de pragas. A outra parte foi investida em máquinas e em processos operacionais para melhorar a gestão das usinas, como a divisão das 11 unidades produtivas em quatro polos administrativos. Com isso, a empresa espera colher acima de 83,7 toneladas de cana por hectare, sua atual marca, ante a média nacional de 70,4 toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento.. "Tudo foi realizado esperando por esse momento que a gente começa a viver agora", afirma Chammas.

A estratégia da Biosev para crescer se baseia na melhoria do mercado para as duas principais commodities nas quais investe, o açúcar e o etanol. Na safra passada, a moagem total de cana no País foi de 632 milhões de toneladas, das quais 571 milhões na região Centro-Sul e 61 milhões no Nordeste. Para a safra 2015/2016, a consultoria Datagro, uma das maiores do setor, projeta uma moagem 4% maior, de 605,9 milhões de toneladas no Centro-Sul e de 52 milhões para o Nordeste, em função da atual estiagem. "Há uma conjunção de fatores, como o consumo de etanol em alta com aumento de preço pago ao produtor, e de aumento do preço do açúcar no mercado interno e também nas principais bolsas de valores, como a de Nova York e a de Londres", diz Plínio Nastari, diretor da Datagro. Em 60 dias, nos meses de setembro e outubro, o preço do etanol aos produtores saiu de R$ 1,18 por litro para R$ 1,64. O açúcar, entre julho e outubro passou de R$ 48 a tonelada para R$ 76 no mercado interno e de US$ 0,38 por libra peso para US$ 0,54. "O cenário é bom e precifica novos patamares para 2016, mas isso não significa que as dívidas do setor serão resolvidas de imediato." 

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