Na terça-feira 3, uma discreta apresentação feita pela General Electric anunciou um dos mais surpreendentes acordos comerciais assinados em 2015 . Por E 12,3 bilhões, o conglomerado americano, fundado há 137 anos por Thomas Edison, comprou a divisão de energia da francesa Alstom. Não foi um acordo qualquer. Em termos financeiros, trata-se da maior aquisição industrial da história da GE. Do ponto de vista estratégico, a transação escancara as novas ambições da companhia. A GE, que atua em áreas tão diversas quanto aviação e saúde, quer agora ser a número 1 do mundo na fabricação de equipamentos para energia eólica. Ao se apropriar dos ativos da rival, a GE abre frentes importantes em países como China e Brasil, que lideram o crescimento desse mercado. No caso brasileiro, a GE irá reforçar uma operação que vem alcançando resultados marcantes. “Enxergamos muitas oportunidades no setor brasileiro de energia, porque ele é uma das bases para o crescimento da infraestrutura do País”, diz Jean-Claude Robert, gerente-geral da área de energias renováveis da GE para a América Latina.

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Mar de ar: maior fornecedora de turbinas eólicas no País, a GE comemorou
a milésima torre instalada com um desenho do artista urbano Cadumen,
que representa a alegria e persistência do povo brasileiro (acima)

O ano de 2015 representou uma guinada na atuação da GE. Até dezembro, a empresa deve atingir a marca simbólica de 2.000 megawatts (MW) em operação no Brasil , o que corresponde a quase um quarto da capacidade instalada no País . Em setembro, a companhia, que detém cerca de 20% do mercado nacional, atingiu a marca de mil turbinas eólicas em funcionamento, um feito inédito. A aposta agora é na nova geração de turbinas, que deve aumentar em mais de 70% a produção da fábrica de Campinas, no interior de São Paulo. No início do ano que vem, a unidade também trará ao mercado brasileiro um conceito inovador. Trata-se do Digital Wind Farm, que consiste basicamente na introdução da inteligência digital às turbinas. “Os sensores instalados nas turbinas capturam dados que são analisados em tempo real”, afirma Robert. “A partir dessas informações, diferentes comandos são gerados a fim de aperfeiçoar a operação das máquinas.” No Brasil, ninguém usufrui da tecnologia.

Para expandir seus negócios no Brasil, a GE usou uma estratégia típica do setor automobilístico: capacitou uma rede de fornecedores para suprir suas demandas industriais. Desde 2012, a empresa atraiu mais de cem fornecedores locais, o que resultou em investimentos superiores a R$ 150 milhões. Uma das principais parcerias firmadas foi com a fabricante sueca de rolamentos SKF. Encorajados pela GE, os suecos desembolsaram R$ 73 milhões em uma fábrica de rolamentos eólicos em Cajamar, na Grande São Paulo. Graças ao acordo, a GE aumentará sua capacidade produtiva de 400 para 500 máquinas por ano. Como o crescimento do mercado brasileiro, novas companhias devem desembarcar por aqui. Há uma explicação simples para esse movimento. Desde 2012, o BNDES oferece uma linha de crédito especial para a aquisição de turbinas eólicas. O problema é que só tem acesso ao financiamento as empresas que comprarem turbinas com elevado índice de nacionalização. Ao comprar componentes de parceiros devidamente instalados no Brasil, a GE – e todos os seus concorrentes – consegue empréstimos em boas condições com o BNDES.

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Poucos setores no Brasil têm apresentado um crescimento tão consistente. Atualmente, a capacidade instalada no País é de 7.500 MW, o que representa uma pequena parte do verdadeiro potencial do setor. Até 2023, segundo cálculos da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), o número deve saltar para 23.000 MW. A participação da energia gerada pela força dos ventos é de apenas 5% na matriz brasileira, quando o ideal, em termos de equilíbrio, é algo em torno de 20%. O Brasil conta atualmente com 298 parques eólicos em 11 Estados, que abastecem os lares de 12 milhões de brasileiros. A principal vantagem sobre outras fontes diz respeito à questão ambiental. Todos aos anos, pelo menos 13 milhões de toneladas de dióxido de carbono deixam de ir pelos ares graças ao movimento incansável das turbinas. Nessa área, o Brasil é favorecido pela natureza. Além da imensidão territorial, o regime de ventos é um dos mais intensos do mundo, especialmente entre maio e setembro. Isso explica por que o País receberá uma nova onda de investimentos nos próximos anos. Até 2017, a Casa dos Ventos – a maior cliente da GE no Brasil – vai desembolsar R$ 4 bilhões na implantação de três complexos eólicos no Nordeste. “A energia eólica foi a fonte que mais cresceu no País nos últimos 5 anos”, diz Lucas Araripe, diretor de novos negócios da Casa dos Ventos. “Inclusive porque o custo de geração tem se mostrado cada vez mais competitivo.”

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