Na terça-feira 13 de outubro, a Ab InBev, gigante global de bebidas, que tem como principais acionistas os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, fez uma proposta de US$ 105 bilhões pelo controle da sua principal rival, a anglo-africana SAB-Miller. O negócio, que ainda depende da aprovação dos órgãos antitruste, é o terceiro maior da história, atrás apenas de duas compras feitas pela operadora britânica Vodafone. Para conseguir concretizar esse investimento, a empresa, que agora é responsável pela venda de uma a cada três cervejas em todo o planeta, segue à risca a cartilha de seus controladores: não há espaço na empresa para custos desnecessários.

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Para eles, a busca constante de eficiência está ligada aos processos de inovação. Na unidade brasileira do grupo, a Ambev, dona de marcas como Skol, Antarctica e Brahma, investe em um Centro de Inovação e Tecnologia, que ficará localizado na Ilha do Bom Jesus, no Rio de Janeiro. Desde agosto do ano passado, foram aportados R$ 180 milhões na unidade, que está numa área de 36 mil m² e se tornará uma espécie de laboratório geral da Ambev, que alcançou um faturamento de R$ 38 bilhões, em 2014. O centro, inicialmente, terá 50 funcionários que serão responsáveis pela criação de bebidas como cervejas, isotônicos, chás e energéticos. O prédio possuirá modernos equipamentos, como sistemas de filtração de bebidas e até a tecnologia de impressoras 3D para criar embalagens mais econômicas e inteligentes. Tudo será feito tendo como base os hábitos dos antigos e, claro, novos consumidores. ?Nos últimos anos, o consumidor se endividou e agora tem uma parcela pequena do dinheiro para gastar?, afirma Felipe Ost Scherer, sócio da consultoria em inovação Innoscience. ?Os novos produtos servem para conquistar essa sobra.? 

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Processos: testes realizados na fábrica de Sete
Lagoas passarão a ser feitos na nova unidade

A Ambev deu uma guinada em muitas de suas marcas, com destaque para a mais vendida delas, a Skol. No fim do ano passado, por exemplo, a companhia lançou a Skol Beats Senses, uma bebida com álcool proveniente da cerveja, mas feita para ser consumida com gelo. A ideia era competir com outros drinks consumidos em casas noturnas e em festas, como as caipirinhas, e outros feitos com destilados. Ainda sob a marca Skol, a Ambev lançou, em 2015, a Ultra, uma cerveja light, voltada aos atletas de fim de semana. Também de olho nas rotinas mais saudáveis, a companhia vem investindo na marca Brahma 0,0%, que vem liderando e expandindo o setor de bebidas sem álcool. No segmento premium, o lançamento de garrafas menores de marcas clássicas como Original e Serramalte e o aumento do investimento em comunicação de outras, como a Budweiser, têm mostrado resultado. De acordo com a Ambev, todos estão com resultados dentro do esperado.

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Do Brasil para o mundo: o executivo Carlos Brito liderou os últimos
processos de fusão da AB InBev. O começo de tudo está na busca
constante de eficiência e nos processos de inovação

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A busca por novos produtos não acontece por acaso. O setor de bebidas vem sentindo os efeitos da crise econômica brasileira. Segundo dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas, da Receita Federal, o volume produzido de cervejas caiu 3,3%, em relação ao ano passado. A base comparativa com o ano de 2014 influenciou os resultados, mas essa não foi a única má notícia. O setor, um dos maiores pagadores de impostos do País, sofreu com a necessidade do Governo Federal em angariar mais receitas a fim de conseguir fechar suas contas. Em abril, os tributos sobre a cerveja e o refrigerante subiram 10%. Até por isso, a procura incessante por redução de custos e aumento de margens fazem todo o sentido para a Ambev. Antes mesmo do anúncio da construção do novo centro, a empresa vinha tirando, literalmente, dinheiro até do bagaço. A cervejeira possui uma taxa de reciclagem superior a 99% e o bagaço do malte é vendido para alimentação de gados. A levedura, para aromatizantes. Além da reciclagem, claro, de seus vasilhames de vidro e latas de alumínio. ?Inovação não é só lançamento de novos produtos, mas a melhoria de processos que não eram bem realizados?, afirma Scherer, da Innoscience.

O que mais chama a atenção, contudo, é a economia de água nos últimos anos. Em 2009, a sua controladora, a Ab InBev, estipulou diversas metas ambientais a serem alcançadas pelas suas subsidiárias. Na época, eram gastos cinco litros de água a cada litro de cerveja engarrafado. O objetivo era diminuir para 3,4 litros em três anos, número que foi atingido. O volume economizado foi equivalente a 25 bilhões de latas, algo próximo a 20% do total produzido anualmente pela companhia. E a Ambev não quer parar por aí. Há um compromisso público de reduzir esse valor para 3,2 litros para cada litro de bebida envasilhado até 2017.

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