Em janeiro, as farmácias brasileiras receberão um medicamento que promete resolver um problema grave que afeta metade dos pacientes depressivos: comprometimento do desempenho sexual. Trata-se de uma nova apresentação de uma droga já usada contra a depressão e o tabagismo: a bupropiona (nome comercial Zyban). A diferença do remédio, o Wellbutrin, da GlaxoSmithKline, está na alteração da dosagem do princípio ativo. Disponível nos Estados Unidos desde 1996, ele é um dos antidepressivos mais prescritos entre os americanos.

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Uma das justificativas para essa performance é a ausência de efeitos colaterais de alguns antidepressivos, caso do ganho de peso e dificuldades sexuais. Os especialistas apontam o segundo exemplo como um dos principais fatores de abandono do tratamento. O psiquiatra Márcio Versiani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, observa que a classe de drogas conhecida como SSRI é a que mais induz esses efeitos. Elas agem sobre o neurotransmissor – substância que faz a comunicação entre os neurônios – serotonina, relacionado ao humor e à sensação de saciedade. Por conta disso, os remédios podem, a longo prazo, diminuir o apetite sexual. “Ninguém sabe por que isso ocorre, mas é certo que a pessoa perde o desejo”, afirma Versiani.

No caso da bupropiona, o remédio atua sobre os neurotransmissores noradrenalina (ligada à motivação) e dopamina (associada ao interesse sexual). Diversos estudos a respeito da disfunção sexual induzida por antidepressivos sugerem que ele pode ser a melhor opção para quem sofre com a queda da libido causada por outros compostos ou para pacientes com risco de desenvolver esse problema. Um deles é do psiquiatra americano Edmund Settle, da University of South Florida. Settle fez trabalhos comparativos. Os resultados mostraram que os efeitos sobre o sexo são praticamente nulos com a bupropiona. “A incidência de diminuição de libido é rara”, completa. Por esse motivo, os especialistas consideram que o Wellbutrin é uma boa alternativa para iniciar o tratamento.

Outra pesquisa americana aponta a bupropiona como possível caminho para tratar mulheres sem depressão. O psiquiatra Robert Segraves testou a droga em 66 pacientes que sofrem de baixa libido. Após duas semanas, 29% delas tiveram aumento das frequências de fantasias sexuais e de excitação. O resultado deve ser olhado com cautela. “O estudo é preliminar. Ainda são necessárias mais pesquisas”, pondera o psiquiatra Márcio Bernik, do Hospital das Clínicas de São Paulo.