Houve um tempo em que as mulheres afegãs, consideradas as belas do Oriente, passeavam com seus rostos descobertos a caminho dos pequenos cafés de Cabul. Andavam descontraídas pelas ruas, com os cabelos penteados à parisiense, ávidas para tomar champanhe no Hotel Gran Cabul. Com a chegada das tropas da Aliança do Norte na capital afegã, aos poucos essas mulheres começam a se libertar do cárcere da burka – vestimenta que cobre todo o corpo, deixando-as praticamente sem visão. Antes de o Taleban obrigar as mulheres a usar o chadri (sinônimo de burka para os afegãos), a roupa era usada apenas pelas mais pobres e tradicionais dos vilarejos. É certo que o Afeganistão sempre foi um país de dominação masculina, conservador, mas as mulheres tinham o direito de ter uma profissão. A maioria delas dedicava-se às áreas de saúde e educação. A Universidade de Medicina de Cabul, por exemplo, era repleta destas esbeltas jovens. Algumas afegãs chegaram a ser até deputadas no Parlamento.

Em Cabul, havia uma elite literata que tinha frequentado as universidades européias. Com a invasão pela União Soviética, em 1979, grande parte dos professores passou a ser de catedráticos soviéticos e até aula de computação em classes mistas as meninas tiveram com eles. Nos anos 70, a capital fora parte da rota dos hippies ocidentais vindos da Índia, que se entorpeciam com os sonoros acordes do oboé, instrumento popular no Afeganistão. Até os discos de vinil dos Beatles e Rolling Stones chegaram ao alcance da pequena classe média afegã. Depois de cinco anos sob o severo regime do Taleban, num lento despertar, a doce Cabul vai voltando ao que um dia já foi e suas mulheres a sentir o gosto da liberdade.