Imagine que o ator Michael J. Fox estivesse no ABC paulista em outubro de 1985 e de lá, exatamente da porta do Estádio da Vila Euclides, programasse o painel de seu carro para ser transportado a outubro de 2015. Logo depois do desembarque no futuro, em poucos minutos ele teria a certeza absoluta de estar vivendo uma obra de ficção. Há trinta anos, por mais utópico que pudesse parecer, havia quem acreditasse que um líder sindical barbudo, de voz rouca e conhecido pelo apelido de Lula, viesse a ser presidente do Brasil. O que ninguém imaginava é que tanto o sindicalista quanto seus companheiros de partido se transformassem em protagonistas dos maiores esquemas de corrupção já descobertos no País. Eles detinham a bandeira da ética, da moralidade política, do compromisso com os trabalhadores. Estavam presentes no movimento sindical, nas Comunidades Eclesiais de Base, nos Clubes de Mães, nas associações de bairro… Por isso tudo, ao mesmo tempo em que assustavam o andar de cima, representavam a esperança, a possibilidade real de se construir um Brasil mais justo. Como imaginar que essa gente fosse parar no presídio da Papuda ou em cadeias do Paraná? E, pior ainda, acusados e condenados não por crimes políticos ou razões ideológicas, mas, sim, por enriquecimento pessoal!!

Há trinta anos era tanto idealismo e tanto compromisso com a coerência política, com a busca pela consolidação da democracia, com a eleição direta para presidente, que, em 1985, enquanto nosso imaginário Michael J. Fox do ABC programava seu carro, Lula e o seu PT se recusavam a participar do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves. Não poderia haver acordo com aquela gente que de uma forma ou de outra mantivera alguma ligação com a ditadura! Não era possível sentar à mesma mesa! Em 2015, quando o futuro chegou, os principais aliados de Lula e do PT são José Sarney, Fernando Collor, Paulo Maluf… Mas, para a ficção ser completa não basta a cadeia e as companhias, é preciso também um discurso. Há trinta anos, Lula e o PT eram intransigentes defensores do emprego, da CLT e da redução de jornada do trabalho. Hoje, entoam a melodia do arrocho, dos cortes orçamentários, do aumento dos impostos, da flexibilização das leis trabalhistas e até da redução salarial.

No filme “De Volta Para o Futuro 2”, Michael J. Fox, depois de visitar 2015, retorna para 1985. Na vida real, no entanto, os brasileiros, e entre eles boa parte daqueles que fundaram a legenda da estrela vermelha, não têm como voltar no tempo e corrigir a história. Agora, o desafio é construir uma nova esperança, uma outra utopia para, quem sabe, em 2045 não termos a percepção de estarmos em um novo filme de ficção.