Primeiro veio o Napster, que, no fim dos anos 90 e início dos 2000, revolucionou a indústria fonográfica ao permitir o compartilhamento de arquivos de músicas entre usuários de forma gratuita. De repente, ninguém mais precisava comprar um CD e pagar por um álbum completo quando o que se queria era ouvir os mesmos dois ou três hits. Não demorou muito tempo para que os jovens nascidos na era da internet se acostumassem a ter todo conteúdo ao alcance de poucos cliques. E mais importante: de graça. Foi nesse período que surgiram os grande portais de notícias, os buscadores, as redes sociais, e o YouTube se consolidou como o site mais popular de vídeos da internet. Fenômeno cultural avaliado em US$ 70 bilhões, o YouTube completou dez anos em 2015 como uma plataforma que, apesar dos bilhões de dólares que gera exibindo incômodos anúncios antes dos vídeos, é incapaz de gerar lucro. Na quarta-feira 21, o anúncio de que o site terá uma versão paga criou expectativas de que essa situação em breve se reverterá e a certeza de que os jovens dessa geração terão, cada vez mais, que se acostumar a pagar por conteúdo.

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“Os consumidores estão aderindo às assinaturas pagas com conteúdo livre de publicidade num ritmo impressionante”, disse Robert Kyncl, presidente de negócios do YouTube, ao anunciar o YouTube Red. O serviço, disponível apenas nos Estados Unidos por enquanto, cobrará dos usuários uma mensalidade de US$ 9,99. A empresa sabe, no entanto, que não basta tirar a propaganda para fazer os consumidores digitarem o número de seu cartão de crédito. Por isso, o YouTube Red oferece também a opção de salvar vídeos em celulares e tablets para assisti-los depois, mesmo sem conexão à internet. Mais do que isso: a ideia agora é oferecer conteúdo inédito e exclusivo. Na programação, estão séries de comédia, reality shows de aventura e filmes produzidos por alguns dos principais criadores de conteúdo para a plataforma, os chamados YouTubers. “É isso que dará valor à assinatura”, afirma Ignacio Perrone, analista de Telecom da consultoria Frost & Sullivan. “No Brasil e na América Latina, a empresa terá que adaptar os preços e, ainda assim, encontrará dificuldades em fazer o modelo de assinatura crescer.” Foi isso que o agora concorrente Netflix fez quando entrou nos mercados emergentes. Nos Estados Unidos, a assinatura mais popular do serviço de streaming de vídeos custa US$ 8,99 por mês, cerca de R$ 35. No Brasil, os planos começam em R$ 19,90.

Os analistas acreditam que, do 1 bilhão de visitantes únicos que o YouTube tem todos os meses, só uma minoria estará disposta a pagar pelos novos serviços. Ainda mais se for considerado que a maior parte desse público é composta por adolescentes, uma faixa etária com baixo poder aquisitivo e disputada por outras plataformas pagas, como o Spotify, de música, e o PlayStation Network, de vídeo-game. Antecipada pela própria empresa, a estratégia do YouTube já era esperada pelo mercado, sobretudo num momento em que a experiência multi-telas se torna hábito entre os consumidores munidos de celulares, tablets e smart TVs, e menos propensos a encaixar suas rotinas na grade horária das tradicionais redes de televisão.

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NOVIDADE
Robert Kyncl no lançamento do YouTube Red, que terá conteúdo inédito

A companhia não abre números, mas estima-se que, no ano passado, a plataforma tenha faturado US$ 4 bilhões. Neste ano, segundo Robert Kyncl, a quantidade de anunciantes cresceu 40% em relação a 2014 e os 100 maiores anunciantes aumentaram seus gastos em 60%. As assinaturas poderão dar o empurrão que faltava para esses números transformarem o YouTube também num fenômeno financeiro.

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Fotos: Shutterstock; AP Photo/Danny Moloshok