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No combate ao câncer de mama, uma polêmica divide os especialistas. Eles divergem sobre a idade certa para que a mulher comece a se submeter à mamografia, exame radiológico para avaliação das mamas. Na semana passada, a Sociedade Americana para o Câncer (ACS) anunciou mudanças nas suas orientações, esquentando a discussão. A entidade passou a recomendar que a investigação seja feita anualmente a partir dos 45 anos, e não mais desde os 40 anos, como determinava até então. Também estabeleceu que após os 55 anos o teste seja feito em anos alternados.

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POSIÇÃO
No Brasil, Sociedade de Mastologia continua a defender a avaliação a partir dos 40 anos

As diretrizes se aproximam das defendidas por outra organização igualmente respeitada, a U.S. Preventive Services Task Force. A entidade defende que o exame seja realizado a partir dos 50 anos, ano sim, ano não. As orientações – da sociedade e da força-tarefa americanas – são dirigidas às mulheres com baixo risco para a doença (não têm história familiar da doença e não apresentam sequer a suspeita de mutações genéticas associadas ao tumor.

A alteração na postura da ACS é a mais recente demonstração de uma linha de entendimento segundo a qual fazer mamografia mais cedo traria mais prejuízo do que benefícios. “O risco para mulheres entre 40 e 44 anos é baixo, e as chances de danos causados por resultados falsos positivos, como testes e biópsias desnecessários e diagnósticos errados, são maiores”, disse à ISTOÉ Elizabeth Fontham, uma das coordenadoras das diretrizes.

A recomendação de tornar o exame bienal a partir dos 55 anos se ancora em outra justificativa. “Depois da menopausa, a doença cresce mais devagar na maioria das mulheres e é mais fácil de ser detectada devido a menor densidade do tecido mamário”, explica Elizabeth. “E as evidências não mostram vantagens estatísticas do teste anual comparado ao realizado a cada dois anos.”

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O Colégio Americano de Radiologia e a Sociedade de Imagem de Mamas reagiram. Ambas reiteraram que continuam a defender que as mulheres façam o exame a partir dos 40 anos. Argumentam que a maioria das pacientes com resultado inconclusivo apenas se submete a mais uma mamografia ou a um ultrassom, sendo que no máximo 2% são encaminhadas a biópsias.

O debate ressurgiu também no Brasil. Aqui, há duas diretrizes. A primeira, do Ministério da Saúde, preconiza que a mamografia em mulheres de baixo risco seja feita a cada dois anos, depois dos 50 anos. O governo entende que é preciso cuidado para que não haja a execução desnecessária de exames.

A Sociedade Brasileira de Mastologia, no entanto, defende a avaliação desde os 40 anos. Segundo a entidade, a prevalência da doença dos 40 aos 50 anos é maior no Brasil do que nos Estados Unidos: 25% dos casos brasileiros estão nesta faixa etária, contra 15% dos registrados nos EUA. “No nosso caso, os benefícios suplantam os riscos”, argumenta o mastologista Ruffo de Freitas Junior, presidente da entidade.

A discussão é um exemplo de questões sobre as quais a medicina demora a chegar a um consenso – quando chega. No Brasil, por exemplo, o debate vai durar mais: um projeto de decreto legislativo em tramitação no Congresso determina que o exame volte a ficar disponível para brasileiras com mais de 40 anos. Um aspecto positivo do debate é que, de várias formas, ele gera mais informações sobre a doença e mantém as mulheres em alerta a respeito da necessidade de sua prevenção.

Foto: JACQUES DEMARTHON/AFP/Getty Images