23/10/2015 - 20:00
O Rio de Janeiro tem sido palco de trágicas explosões causadas por vazamentos de gás nos últimos anos, resultado da falta de fiscalização à rede de gás na cidade. O mais recente desastre desse tipo, a explosão que atingiu 54 imóveis em São Cristóvão, na madrugada de 18 para 19 de outubro, deixou oito feridos e um prejuízo ainda incalculável. A principal hipótese para a causa do acidente seria um vazamento em um dos dois estabelecimentos localizados no centro da Rua São Luiz Gonzaga: a pizzaria Dell’Arco e o restaurante Ipueiras, suspeitos de armazenar cilindros e botijões de gás. Além disso, apesar de funcionarem há mais de uma década, ambos não passaram por uma fiscalização do Corpo de Bombeiros desde que receberam o alvará para funcionamento, no início dos anos 2000. Os bueiros da cidade também são uma bomba-relógio. O gás pode escapar dos dutos e vazar até uma câmara da rede de energia elétrica – a capital fluminense peca por ter em sua rede equipamentos muito velhos, com até 50 anos de uso. Com isso, basta uma faísca para a explosão lançar as tampas para o alto. Nos últimos cinco anos, foram mais de trinta acidentes, muitos com vítimas.
CHOQUE
Valdecir Galdino da Silva, dono do restaurante Ipueiras,
destruído pelo impacto, reza diante dos escombros
Desde 18 de setembro de 2014, está em vigor no Rio de Janeiro a lei estadual 6.890, que exige que proprietários de imóveis comerciais e residenciais façam uma inspeção de segurança a cada cinco anos nas instalações de gás. A chamada Lei da autovistoria, no entanto, ainda não saiu do papel. Após um demorado processo de regulamentação, foi determinado que o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) seria o responsável por creditar as empresas que farão a vistoria. Porém, apenas na segunda-feira 19, horas após o desastre em São Cristóvão, o instituto certificou a primeira empresa interessada. Enquanto isso, a CEG (Companhia Estadual de Gás) afirma que monitora apenas as instalações de gás natural. Já o Corpo de Bombeiros informou que faz cerca de 39.600 vistorias anuais em todo o estado, mas apenas em estabelecimentos comerciais. “Não podemos entrar nas residências para fiscalizar. Entramos somente quando se trata de pessoa jurídica”, disse Ronaldo Alcântara, comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio.
Ao todo, 54 imóveis foram interditados e 19 destruídos
Em maio deste ano, outro caso de vazamento levou a uma detonação no edifício Canoas, em São Conrado, que provocou a morte do morador Markus Muller, de 51 anos. Já em 2011, um vazamento de gás ocasionou a explosão do restaurante Filé Carioca, na Praça Tiradentes, matando quatro pessoas e ferindo dezessete. Para o engenheiro David Gurevitz, especialista em inspeção predial, duas medidas poderiam evitar que novos incidentes desse tipo venham a ocorrer: a aplicação da lei da autovistoria e a responsabilidade dos próprios usuários do gás, seja ele em botijão, cilindro ou gás encanado. “Existe muito desleixo por parte dos donos de imóveis, para dizer o mínimo”, afirma Gurevitz. “De 2,6 mil prédios que vistoriei, 18% tinham problemas graves na distribuição de gás”, disse. O laudo com as causas oficiais do desastre em São Cristóvão deve sair em até trinta dias.
Foto: Thiago Lontra/Agência O Globo