O Rio de Janeiro tem sido palco de trágicas explosões causadas por vazamentos de gás nos últimos anos, resultado da falta de fiscalização à rede de gás na cidade. O mais recente desastre desse tipo, a explosão que atingiu 54 imóveis em São Cristóvão, na madrugada de 18 para 19 de outubro, deixou oito feridos e um prejuízo ainda incalculável. A principal hipótese para a causa do acidente seria um vazamento em um dos dois estabelecimentos localizados no centro da Rua São Luiz Gonzaga: a pizzaria Dell’Arco e o restaurante Ipueiras, suspeitos de armazenar cilindros e botijões de gás. Além disso, apesar de funcionarem há mais de uma década, ambos não passaram por uma fiscalização do Corpo de Bombeiros desde que receberam o alvará para funcionamento, no início dos anos 2000. Os bueiros da cidade também são uma bomba-relógio. O gás pode escapar dos dutos e vazar até uma câmara da rede de energia elétrica – a capital fluminense peca por ter em sua rede equipamentos muito velhos, com até 50 anos de uso. Com isso, basta uma faísca para a explosão lançar as tampas para o alto. Nos últimos cinco anos, foram mais de trinta acidentes, muitos com vítimas.

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CHOQUE
Valdecir Galdino da Silva, dono do restaurante Ipueiras,
destruído pelo impacto, reza diante dos escombros

Desde 18 de setembro de 2014, está em vigor no Rio de Janeiro a lei estadual 6.890, que exige que proprietários de imóveis comerciais e residenciais façam uma inspeção de segurança a cada cinco anos nas instalações de gás. A chamada Lei da autovistoria, no entanto, ainda não saiu do papel. Após um demorado processo de regulamentação, foi determinado que o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) seria o responsável por creditar as empresas que farão a vistoria. Porém, apenas na segunda-feira 19, horas após o desastre em São Cristóvão, o instituto certificou a primeira empresa interessada. Enquanto isso, a CEG (Companhia Estadual de Gás) afirma que monitora apenas as instalações de gás natural. Já o Corpo de Bombeiros informou que faz cerca de 39.600 vistorias anuais em todo o estado, mas apenas em estabelecimentos comerciais. “Não podemos entrar nas residências para fiscalizar. Entramos somente quando se trata de pessoa jurídica”, disse Ronaldo Alcântara, comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio.

Ao todo, 54 imóveis  foram interditados e 19 destruídos

Em maio deste ano, outro caso de vazamento levou a uma detonação no edifício Canoas, em São Conrado, que provocou a morte do morador Markus Muller, de 51 anos. Já em 2011, um vazamento de gás ocasionou a explosão do restaurante Filé Carioca, na Praça Tiradentes, matando quatro pessoas e ferindo dezessete. Para o engenheiro David Gurevitz, especialista em inspeção predial, duas medidas poderiam evitar que novos incidentes desse tipo venham a ocorrer: a aplicação da lei da autovistoria e a responsabilidade dos próprios usuários do gás, seja ele em botijão, cilindro ou gás encanado. “Existe muito desleixo por parte dos donos de imóveis, para dizer o mínimo”, afirma Gurevitz. “De 2,6 mil prédios que vistoriei, 18% tinham problemas graves na distribuição de gás”, disse. O laudo com as causas oficiais do desastre em São Cristóvão deve sair em até trinta dias.

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Foto: Thiago Lontra/Agência O Globo