A declaração dada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na quinta-feira 22, afirmando que só as comprovadas pedaladas fiscais não são suficientes para levar adiante um processo de impeachment contra a presidente Dilma está longe refletir a guerra que ambos protagonizaram na última semana. Em Brasília, Cunha transformou a presidência da Câmara em um bunker de ataques e ameaças contra o governo e parlamentares (leia reportagem na pag. 32). A presidente, por sua vez, disparou da Escandinávia uma série de mísseis contra o desafeto cada vez mais comprometido com as investigações da Lava Jato. Mais do que ataques comuns em disputas políticas acaloradas, o que se viu nessa guerra sem vencedores foi um bombardeio de mentiras de ambas as partes. A mais flagrante foi detonada pela presidente, na terça-feira 20, minutos antes de ocupar o cockpit de um caça supersônico Gripen, na Suécia. “Meu governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção”, disse ela, em resposta a uma afirmação de Cunha, que na véspera havia definido o Petrolão como “o maior escândalo de corrupção do mundo”.

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Não poderia se esperar que a presidente deixasse de defender seu governo, mas ao recorrer a uma bravata para responder a um deputado envolvido em desvios de dinheiro público, Dilma só tem a perder. Qualquer brasileiro medianamente informado sabe que a situação é bem diferente. A Operação Lava Jato já comprovou que esse segundo mandato de Dilma nasceu contaminado com caixa dois e recursos não contabilizados na campanha eleitoral. Os depoimentos e documentos que levaram a essa conclusão estão no Tribunal Superior Eleitoral em processo que pode inclusive levar à perda do mandato presidencial. Seu ministro predileto, hoje na pasta da Educação e até o mês passado na Casa Civil, Aloizio Mercadante, também está envolvido em esquemas de recebimento de recursos irregulares para a campanha política.

No Ministério Público Federal e também na Polícia Federal, o Petrolão é definido como o maior escândalo de corrupção já descoberto no Brasil. Será que a presidente ignora que a Petrobras faz parte do governo, como disse Cunha? Diretores da estatal que protagonizaram esse esquema, como Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró dirigiram a petrolífera na gestão de Dilma. A compra superfaturada da refinaria de Pasadena, que provocou um prejuízo superior a US$ 700 milhões a Petrobras foi realizada quando Dilma presidia o conselho da empresa. Fatos como esses mostram que na hora de escolher ministros e diretores de estatais, Dilma exerce a plenitude de seu poder. Mas, quando os malfeitos são descobertos, a presidente se esquiva de qualquer responsabilidade.

Os escândalos que rondam a presidente, na verdade, remetem a seu primeiro mandato. Desde 2010 foram registrados malfeitos em ministérios de peso, como Desenvolvimento, Fazenda, Transportes, e em órgãos com estruturas menores, como o da Pesca. Só no primeiro ano de mandato, Dilma afastou seis ministros envolvidos em suspeitas de corrupção praticada antes ou durante sua gestão: Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Carlos Lupi (Trabalho), Wagner Rossi (Agricultura), Orlando Silva (Esporte) e Pedro Novais (Turismo). A opção da chefe do Executivo por fazer uma faxina, na época, rendeu a ela animosidade com os aliados políticos, mas amplo apoio popular com recordes de aprovação. A sucessão de escândalos, porém, mostraram que a imagem de “caçadora” de corruptos era apenas marketing e a popularidade da presidente vem desmoronando a cada pesquisa. 

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