Quem não se lembra do hilário jumento de Os Saltimbancos, da foca equilibrista de A arca de Noé, ou da linda gaivota a voar no céu de Casa de brinquedos? Nos últimos anos, durante o reinado de famosas apresentadoras, foi grande a saudade dos saborosos discos infantis produzidos até o início dos anos 80 por Chico Buarque, Toquinho e Vinícius de Moraes. Mas agora crianças, pais e educadores podem comemorar. Propostas inovadoras parecem ter modificado definitivamente a cara do gênero, salvando-o da massificação dos programas de auditório. Os lançamentos formam um pacote cultural precioso, cheio de experimentações.

Os discos são passaportes para divertidas viagens musicais, como a que propõe o CD Canções do Brasil (R$ 28), do selo Palavra Cantada, produzido pelos músicos Sandra Peres e Paulo Tatit. Eles peregrinaram pelos 26 Estados brasileiros para gravar o que as crianças gostam de cantar, sem se importar se a canção era folclórica ou moderna. Em Rondônia, por exemplo, a índia Karitiana Dardete, nove anos, canta em seu dialeto. No Rio, Pedrinho do Cavaco, dez anos, mostra seu talento promissor de sambista. “As crianças ficam encantadas ao ouvir músicas de outras regiões. Mostramos o disco para a meninada do grupo Nação Erê, do Recife, e tivemos que ensinar o siriri, dança típica do Mato Grosso”, conta Tatit.

Foi também o interior, precisamente a cidade mineira de Carangola, que inspirou o CD O gigante da floresta (R$ 18) de Hélio Ziskind. Até 1997, havia lá um jequitibá de 1.500 anos que pegou fogo. Em homenagem à árvore, o compositor criou o disco no qual os seis personagens do programa infantil Cocoricó (TV Cultura) viajam para conhecê-la. Na jornada, eles cantam acompanhados pela percussão de Marcos Suzano, pelo saxofone de Proveta e a viola caipira de Paulo Freire. “Queria me aproximar da música de Caymmi e de João de Barro”, explica Ziskind.

Um roteiro mais amplo sugere Zezinho Mutarelli no disco-livro Músicas daqui, ritmos do mundo (R$ 32), lançado pela editora Fábrica: idéias para crianças. Veterano em trilhas publicitárias, Mutarelli lida bem com todo tipo de ritmo. “Assim nasceu a idéia de gravar canções tradicionais do repertório infantil em diferentes estilos”, conta. O livro, ilustrado por Gilles Eduar, mostra às crianças as roupas e a paisagem de cada país. Os personagens percorrem o mundo para ouvir música. Descem o rio Mississipi com o blues de Atirei o pau no gato na voz de Luiz Melodia, conhecem o Oriente Médio ouvindo Pirulito que bate-bate na voz de André Abujamra e cruzam o sertão paulista com o Sapo Jururu de Pena Branca e Xavantinho. E quem quiser que cante outras.