Há algo de podre no maior mercado de frutas, verduras, flores e pescados que abastece o Estado de São Paulo. Pelo menos, é o que indica o faro do Ministério Público Federal, que desde o mês passado vem fazendo uma varredura nos cerca de 30 contratos do maior armazém alimentício da América Latina, a Ceagesp. Só os quatro primeiros já somam um prejuízo de R$ 10 milhões aos cofres públicos. Na semana passada, o cheiro da corrupção impregnou de tal modo o Ministério da Agricultura – atual gestor do entreposto – que o ministro interino Márcio Fortes de Almeida exonerou toda a diretoria da companhia. Desde sexta-feira 9, Homero Rodrigues Leite e Miguel Appolonio perderam, respectivamente, os cargos de diretor das áreas financeira e operacional do entreposto.

A assessoria do Ministério informou apenas que o motivo do afastamento foi a prática de “irregularidades administrativas”. Já a lista de denúncias apuradas pelo MP é maior. Nela estão falsificação de documentos, contratos feitos sem licitação, favorecimento de comerciantes locais e até o funcionamento de máquinas caça-níqueis nos pátios da Ceagesp. “No calor da discussão, meu nome acabou sendo incluído nessa história. Não foi a minha diretoria que insistiu em ficar com o controle dos processos de licitação e das cobranças”, dispara Leite, o homem das finanças, contra o colega da área operacional. “Se o governo FHC acha que é só mandar os diretores embora para resolver o problema, está enganado. Vou procurar a Justiça e contar tudo. Quem fez o que e como na diretoria financeira”, devolve Appolonio. A lavação de roupa suja promete. A Procuradoria comemora.

De todos os contratos analisados pelo Ministério Público, um é emblemático, pois era exatamente para controlar o dinheiro pago à Ceagesp por comerciantes que alugam seu espaço. A empresa Prolan Soluções Integradas é acusada de atrasar a informatização da área contábil, piorando o já caótico sistema de cobrança. Para se ter uma idéia, até o ano passado os pagamentos ao entreposto, que responde por 25% do total de hortifrutigranjeiros vendidos no País, eram registrados na boa e velha caderneta. Hoje a inadimplência acumulada ameaça levar para o ralo cerca de R$ 6 milhões – quase o dobro da receita mensal da Ceagesp. O MP cobra o cumprimento do contrato da Prolan, que já recebeu R$ 910 mil antes da conclusão dos serviços. “Além de ser irregular fazer pagamentos antecipados, houve atestados falsos que indicavam a realização dos trabalhos”, argumenta a procuradora Izabel Groba. Na versão da empresa, o projeto está dentro do prazo se forem consideradas a complexidade do sistema e a desordem contábil presente até sua chegada.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias