Foi uma morte rápida e inesperada. Triatleta, saudável e jovem, o empresário Luis Fernando La Selva parecia ter muitos e muitos anos pela frente. No início de setembro, numa viagem com amigos a Cuba, ele foi queimado com gravidade por uma água-viva enquanto nadava. Voltou para o Brasil passando mal. Estava contaminado por uma bactéria altamente agressiva. Em menos de 20 dias internado no hospital Albert Einstein, morreu, com apenas 38 anos de idade.

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PESO
A invasão de águas-vivas gigantes está causando prejuízos
milionários à indústria pesqueira do Japão

Os médicos não foram taxativos em afirmar que a queimadura de água-viva teve relação direta com a infecção que matou La Selva, casado havia 20 anos com a designer Camila Klein. Mas a morte do jovem empresário despertou atenção especial para um problema que tem ocorrido em todo mundo com cada vez mais freqüência. A explosão populacional de águas-vivas tem afetado mais e mais banhistas nas praias do planeta. Só no ano passado, por exemplo, cerca de 150 mil pessoas foram tratadas com queimaduras provocadas por esses animais no Mediterrâneo. No último verão, 30 mil banhistas foram atingidos pelas águas-vivas no litoral catarinense.

O problema é global e parece estar relacionado com mudanças no clima e no meio ambiente provocadas pelo homem. “Esquecemos a quantidade de esgoto que despejamos nos mares. Enquanto para a maioria dos seres isso é danoso, para as águas-vivas acaba sendo uma oportunidade de mais alimentos”, diz o professor Doutor Sérgio Stampar, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Compostas basicamente de água, sem cérebro e com uma capacidade rara de adaptação, esses animais gelatinosos habitam os oceanos há milhões de anos e são capazes de se reproduzir de maneira assexuada, gerando milhares de clones de si mesmos. “Qualquer mudança no ecossistema que as favoreça fará a população crescer”, diz Stampar.

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MORTE
La Selva contraiu uma bactéria fatal após ser queimado no Mar do Caribe

Há dois anos a população de uma espécie de água-viva que habita o Mar Báltico cresceu tanto que acabou causando a interrupção de um dos três reatores da Usina Nuclear de Oskarshamn. Responsável pela geração de 10% da energia produzida na Suécia, a usina usa água marinha para refrigerar seus reatores. Os tubos de captação ficaram entupidos com a grande quantidade de águas-vivas. O mesmo problema já havia sido registrado em usinas dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Japão.

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O país oriental tem sido um dos mais afetados pela recente explosão na população de águas-vivas, com sérios prejuízos para a indústria pesqueira. Há poucos anos, um barco chegou a naufragar após suas redes capturarem toneladas delas. 

Uma das poucas investigações sobre o tema feita no Brasil, realizada em parceira entre a USP e a Unesp, no Guarujá (SP), revelou que a presença maciça de águas-vivas pode reduzir a produtividade da pesca entre 30% e 40%. Primeiro porque elas se alimentam de larvas, peixes pequenos e ovos. Segundo porque sua presença diminui a do arrasto, já que as redes acabam capturando mais águas-vivas que peixes.

Há quem afirme que eventos como esses são normais e fazem parte do ciclo natural das águas-vivas. “Estamos testemunhando o aumento desses indivíduos e precisamos saber se é uma anormalidade, uma coincidência ou se estão ocorrendo mudanças fundamentais em nossos mares”, diz Peter Richardson, gerente do programa de pesca e biodiversidade da Sociedade de Conservação Marinha da Inglaterra. 

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