A uma semana das eleições presidenciais, uma nuvem de incerteza paira sobre Buenos Aires. O candidato oficial, Daniel Scioli, um herdeiro político hesitante dos Kirchner, lidera as pesquisas depois de ter vencido as eleições primárias, em agosto, mas é improvável que consiga uma vitória no primeiro turno. Para isso, precisa de 45% dos votos. Pelas regras do país, 40% também são suficientes, desde que com uma diferença de 10 pontos percentuais para o segundo colocado. Atrás de Scioli aparecem o opositor convicto Mauricio Macri, da direita conservadora, e Sergio Massa, ex-chefe de gabinete de Cristina Kirchner e agora um peronista dissidente. Se somadas as intenções de votos dos dois, o atual cenário mostra que os argentinos se cansaram do kirchnerismo, há 12 anos no poder e desgastado por uma série de denúncias de corrupção. Para a sorte de Cristina, esses votos estão divididos.

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Nas últimas semanas de campanha, o centro do debate passou a ser a disputa pelo segundo lugar. Segundo o analista político, Raúl Aragón, Sergio Massa teria mais chances de derrotar Scioli no segundo turno do que Macri. Isso porque o voto em Macri é visto como totalmente anti-kirchnerista. Por isso, dificilmente migraria para o candidato da situação. “Se os dois estivessem unidos, Scioli não teria nenhuma chance de vencer”, disse à ISTOÉ. Foi o que Massa propôs a Macri em junho, mas o acordo não vingou. Macri, então, passou a defender o que chama de “voto útil”. “Se dividirmos nosso voto podemos continuar como estamos”, escreveu o candidato em sua página no Facebook. “As circunstâncias demonstraram nas primárias que Cambiemos (coalizão da centro-direita) é a única frente competitiva que pode ganhar do oficialismo.” Numa última cartada para roubar votos do opositor, o chefe de governo de Buenos Aires inaugurou, há duas semanas, um monumento em homenagem ao general Juan Domingo Perón, fundador da principal corrente política do país. A estratégia pode ter sido inócua. “A maioria dos argentinos se identifica com o peronismo, mas Macri não tem nenhuma tradição no movimento”, afirma Patrício Giusto, diretor da consultoria Diagnóstico Político, de Buenos Aires.

DEPOIS DE LEVAR DUAS ELEIÇÕES NO PRIMEIRO TURNO,
CRISTINA TEVE DIFICULDADE EM FAZER UM SUCESSOR

Num momento em que a inflação extra-oficial ultrapassa os 25% ao ano e o Fundo Monetário Internacional prevê que a economia entre em recessão em 2016, o fato é que, no domingo 25, o kirchnerismo deverá sair menor. Há quatro anos, Cristina foi reeleita com 53% dos votos – o melhor resultado já obtido por um candidato desde a redemocratização. Em 2007, a presidente também havia se consagrado logo no primeiro turno. Agora, seu candidato sofre para sair de sua sombra e convencer os eleitores de que pode recuperar o país.

Enquanto isso, Cristina planeja sua despedida da Casa Rosada com extravagância particular. Em novembro, a presidente deverá reunir amigos e militantes na Praça de Maio ou no estádio do time de futebol Vélez Sarsfield, na capital do país, num ato pelos dez anos do “não” à Alca, zona de livre comércio com os Estados Unidos. Na lista de convidados estariam os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e José Mujica, do Uruguai.

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Fotos: Natacha Pisarenko, JUAN MABROMATA, Molly Riley e Eitan Abramovich/AFP PHOTO 


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