Nos últimos 25 anos, nenhum grupo empresarial foi tão impetuoso quanto o trio formado pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Sócios da AB Inbev, a maior cervejaria do planeta, eles deram na semana passada mais uma demonstração de força. A AB Inbev comprou, por US$ 104 bilhões de dólares, a britânica SAB Miller, a segunda no ranking. Juntas, as duas gigantes vão controlar 30% do mercado mundial de cervejas, ou o triplo da fatia de sua oponente mais próxima, a Heineken. Liderados por Lemann, o homem mais rico do Brasil, os três começaram a escalada em 1989, quando assumiram o controle da Brahma. Dez anos depois, fizeram o que parecia impossível. Uniram a Brahma à arquirrival Antarctica, e nascia daí a Ambev. Desde então, usaram a mesma agressividade para absorver, uma por uma, as principais concorrentes. De fusão em fusão, eles mudaram o eixo global dos grandes negócios, colocando o Brasil no centro do jogo. O surpreendente é que as investidas de Lemann e seus parceiros está longe de acabar.

Pic_Eco.jpg
TRIO DE FERRO
Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles (da esq. para a dir.):
agora, só falta comprar a Coca-Cola

Por trás do sucesso do trio está uma cultura empresarial baseada no corte obsessivo de custos e na cobrança radical por resultados. Os executivos da AB Inbev adotam práticas frugais, como o uso de hotéis baratos, viagens aéreas na classe econômica e divisão de salas mesmo entre profissionais que estão no alto da hierarquia. Carlos Brito, presidente mundial da AB InBev, divide uma mesa grande na sede da empresa em Nova York com outros diretores, e não raro vai ao escritório de jeans e camiseta. No final do ano, os diversos departamentos são obrigados a cortar os 10% mais fracos, não importando cargo ou tempo de serviço. Brito, que trabalha com Lemann desde 1989, é um dos idealizadores do “orçamento de base zero”, em que todas as despesas têm que ser justificadas anualmente. Quando da fusão com a Anheuser-Busch, em 2008, Brito eliminou 1,4 mil empregos da cervejaria americana, ou 6% de sua força de trabalho. Agora, os britânicos da SABMiller se perguntam qual será o tamanho do corte, porque é certo que ele virá.

01.jpg

ECO-01-IE1.jpg
ESTRATÉGIA
O executivo Carlos Brito: corte radical de custos

A fusão com a SABMiller vem num momento complicado para a AB InBev. Nos Estados Unidos e no Brasil, responsáveis por 50% das receitas da empresa, as vendas caíram 3,9% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano passado. O ano de 2015 representará um marco negativo. Pela primeira vez em 30 anos, o consumo global de cerveja vai encolher. Esse cenário explica a opção da AB InBev. Projeções indicam que em nenhum outro continente o mercado avançará tantos nos próximos anos quanto na Africa. A SABMiller, que começou com o nome de Cervejarias Sul-Africanas, é líder em toda a região. Na África do Sul, sua participação nas vendas está em torno de 90%. A SABMiller tem ainda boa presença no Oriente Médio, e cresce em ritmo forte na América Latina. Na semana passada, a imprensa americana disse que só falta uma tacada para Lemann e seus sócios completarem o recorde de aquisições: comprar a Coca-Cola. É bom não duvidar da sede do trio brasileiro.

G.jpg

Foto: HERWIG VERGULT/AFP