O Festival MixBrasil, mostra de filmes dedicada à diversidade sexual, é só motivo de orgulho para a comunidade gay. O número de frequentadores aumenta a cada ano. Em sua nona edição, com exibição em São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Buenos Aires, a expectativa de público é maior que os 35 mil do ano passado e quase 30 vezes mais que em 1993, quando o festival nasceu. Até aqui, foram quase nulos os percalços na busca de patrocínio e divulgação do evento. Hoje o orçamento da mostra é 20 vezes maior que os R$ 7 mil disponíveis há nove anos. Mesmo com razões para comemorar, o movimento GLS sofreu um golpe inesperado, que serviu para lembrar que a luta contra o preconceito continua. A revista Veja, da Editora Abril, se recusou a publicar um anúncio do festival. A justificativa inicial, segundo o jornalista e organizador da mostra, André Fischer, “foi de que a revista não publica anúncios de conteúdo pornográfico nem GLS”. Mas ele garante: “Não havia nada de pornográfico no anúncio.”

Irritados com o que consideram preconceito, gays, lésbicas e simpatizantes fizeram um protesto simbólico em São Paulo, na terça-feira 13, dia da abertura do festival. Cerca de 100 pessoas, entre elas o cantor Edson Cordeiro, jogaram exemplares de Veja numa lata de lixo. Em nota oficial divulgada no mesmo dia e onde chama o MixBrasil de “Festival GLS de Cinema e Vídeo”, a editora se defende alegando que, “nos últimos anos, Veja e Veja São Paulo fizeram quatro reportagens de capa e meia centena de reportagens internas que tiveram como tema principal o homossexualismo”. Sobre o episódio, dá outro argumento: “O que incomoda no caso, e torna inaceitável sua veiculação, é o fato de o anúncio remeter os leitores, sem aviso, a páginas com conteúdo sexual explícito.” As tais páginas estão no site MixBrasil, abrigado pelo UOL e cujo endereço estava no anúncio, mas para acessá-las é preciso ser assinante do portal e ler alguns avisos, em inglês e português.

Fischer contra-ataca: “As matérias de Veja tratam os gays de forma preconceituosa e folclórica.” Seria irônico se não fosse tão grave: a recusa aconteceu na mesma semana em que o governador paulista, Geraldo Alckmin, sancionou a lei que prevê multa de quase R$ 10 mil para pessoa ou empresa que discriminar homossexual, bissexual ou trangênero. Baseada na nova lei, a Associação de Advogados Gays do Brasil vai processar a revista.