Muito precisa ser descoberto sobre o Ebola. Considerado um dos vírus mais letais, ele infectou cerca de 19 mil pessoas e matou outras 7 mil na epidemia que castigou países africanos no ano passado. Na última semana, a divulgação de novos dados sobre o vírus surpreendeu os cientistas. O primeiro revelou que ele é capaz de se esconder dentro do corpo por um tempo maior do que se imaginava e de atacar novamente, com agressividade ainda maior. O segundo, na mesma linha, mostrou que o Ebola pode continuar presente no sêmen até nove meses após a infecção.

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A evidência de sua capacidade de ficar latente e voltar a provocar sintomas ficou clara com o caso da enfermeira escocesa Pauline Cafferkey. Ela foi infectada em dezembro de 2014, quando trabalhava em Serra Leoa, um dos países mais atingidos pela epidemia. Levada ao Royal Free Hospital, em Londres, foi tratada e recebeu alta no final de janeiro. No começo de outubro, no entanto, apresentou sintomas da infecção. Um novo exame demonstrou que o vírus voltara a atuar. Até a sexta-feira 16, ela permanecia internada em estado crítico.

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É a primeira vez que a medicina registra um caso assim. Sabia-se que o Ebola podia se alojar por meses em pontos nos quais a ação do sistema de defesa pode não ser tão forte. Entre eles, estão o sistema nervoso central, olhos, genitais, placenta e leite materno. “Mas se esconder por dez meses e ainda causar sintomas severos é uma situação única”, disse à ISTOÉ o virologista Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

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Na quinta-feira 15, dois estudos publicados no The New England Journal of Medicine, respeitada revista científica, forneceram mais evidências da força do vírus. Nesse caso, de sua capacidade de continuar presente no sêmen por meses a fio e de ser transmitido via sexo. No primeiro, pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos e de Serra Leoa acompanharam a evolução de 93 homens infectados. Após três meses, todos tinham o vírus no esperma. Mais da metade submetida ao teste quatro a seis meses depois permaneciam positivos e 11, entre 46 examinados sete a nove meses após, ainda possuíam sêmen infectado. Nunca a presença do Ebola no esperma havia sido detectada depois de tanto tempo.

A informação tornou mais urgente a resposta sobre a possibilidade de transmissão sexual do vírus. Até agora, o consenso era o de que ela existe, mas seria rara. Porém, o segundo artigo publicado no New England adicionou questionamento em relação a isso. Ele relata o caso de uma mulher infectada em março após ter relações sexuais com um homem que havia ficado doente em setembro. “A mesma assinatura genética do vírus nas amostras da mulher e do homem é evidência conclusiva da transmissão”, disse Vincent Munster, co-autor da pesquisa.

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INTENSO
Agora, a doença voltou mais forte e deixou Pauline em estado crítico

A OMS recomenda que os sobreviventes façam testes três meses depois da infecção e, aqueles para os quais o resultado for positivo, que se submetam a exames mensais. “Diante de um número tão grande de homens infectados e que podem espalhar o vírus via sexo, são muito reais as chances de novos surtos”, disse Jonathan Ball.

Por causa disso, e devido à dimensão da epidemia de 2014, quando pela primeira vez o Ebola ultrapassou as fronteiras africanas, o mundo continua em alerta. Na China, o governo anunciou que iniciará os testes em humanos de uma vacina desenvolvida pelo exército. O plano é iniciar a produção do fármaco em 2018. 

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