Além de ser o passaporte para grande parte das universidades públicas brasileiras, a maior prova do País, o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) funciona como uma espécie de selo de qualidade para as escolas regulares, que exibem a sua boa pontuação no teste para atrair novos alunos. Os colégios têm se esmerado em alternativas às aulas tradicionais para estimular os estudantes, uma vez que o Enem, que este ano acontece nos dias 24 e 25 de outubro, costuma exigir reflexão, não só cobrar conteúdo. Essa é a estratégia do colégio Mary Ward, em São Paulo, que viu no ambiente on-line um aliado. Para melhorar o desempenho da turma em redação, a professora Elaine Cristine Fernandes da Silva criou a disciplina de Leitura e Letramento, em que os estudantes conversam sobre temas variados via Facebook. É Elaine, doutora em língua portuguesa, que inicia os debates virtuais entre os adolescentes e os avalia conforme a participação. Segundo ela, o nível de comprometimento é impressionante. “Um dia entrei no chat à meia-noite, e a classe ainda estava lá, discutindo sobre cyber bullying”, diz. “Eles mal percebiam, mas, de um jeito diferente, estavam estudando e não queriam parar.” Foi uma aposta ousada, já que não é difícil perder o foco com o bombardeio de informações da internet. Felizmente deu certo: a média do colégio em redação no Enem subiu de 608 pontos em 2013 para 665,56 em 2014. “O Enem exige formação crítica e é isso que tentamos ensinar”, afirma Elaine.

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LIÇÃO
Acima, candidatos prestam o Enem 2014; abaixo, aula de programação
no colégio Mater Dei; à esquerda, Pamella Gomes Gagliano e
Fernanda Gonçalves de Carvalho, alunas do colégio Mary
Ward, que ensina redação por rede social

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O Exame Nacional do Ensino Médio é conhecido por ultrapassar a formalidade das questões de provas e vestibulares que exigem apenas conhecimento bruto. Ao contrário, é um exame que pede raciocínio lógico e exige dos participantes uma capacidade de mesclar diferentes áreas. Por isso, outro item que tem entrado no currículo dos colégios diz respeito às chamadas competências socioemocionais, que podem ter um horário específico ou serem trabalhadas durante as aulas tradicionais. São desenvolvidos conceitos que podem trazer benefícios para a vida cotidiana das crianças e adolescentes, como resiliência, pontualidade, liderança e disciplina. No Colégio Franciscano Pio XII, em São Paulo, a aula de Prevenção e Cidadania faz parte da grade curricular e amplifica nos alunos essas competências, o que leva ao desenvolvimento de um pensamento crítico, justamente o que o Enem exige. “Trabalhamos de maneira a ensinar o estudante a filtrar informações, resolver problemas e ser criativo”, afirma a professora Patrícia Heidrich Prado.

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A ideia de preparar alunos para o futuro, bem como para uma prova importante como o Enem, tem sido trabalhada mesmo antes do Ensino Médio. No Colégio Mater Dei, também na capital paulista, são oferecidas aulas de programação e robótica para alunos do Fundamental 2 (6º ao 9º ano) já preparando o jovem a pensar criticamente e capacitá-lo para resolver problemas. “Quando falamos em melhorar notas em prova temos que pensar de maneira bem global”, afirma Marcelo Lopes, diretor de tecnologia do Weducation, associado ao Mater Dei. “A tecnologia faz parte do universo do aluno, então precisamos usá-la para atraí-lo para a escola.” Na disciplina de programação, as crianças colocam em prática noções de trigonometria e geometria e fazem cálculos básicos para que o bonequinho na tela do computador siga suas ordens. O software usado nas aulas desenvolve as capacidades de raciocínio. Já na de robótica, os assuntos tratados são os ensinados nas aulas de ciências. São alternativas criadas para um mundo que exige novos tipos de conhecimento. E onde, se não a escola, o melhor lugar para aprendê-los?

Fotos: Marcos Santos/USP Imagens; João Castellano/AG. Istoé; Airam Abel